Para os Sivaítas, a energia divina indiferenciada, por causa de sua liberdade, desfruta da cristalização1 como água viva e límpida solidificada pelo frio. O Todo rachado agora não passa de pingentes de gelo congelados, à deriva e em constante colisão. Esses fragmentos (aņu), seres impotentes, perderam o senso do Todo e não conseguem encontrá-lo por si mesmos.
É o fogo da energia divina, o fogo da graça, o único capaz de derreter os pingentes de gelo.
Se a graça for fraca, o fogo arde: faz com que finas correntes de água emerjam do coração, abrindo canais gradualmente; o indivíduo constantemente o agita, ajudando-o a derreter com sua aplicação; os canais, livres de suas limitações, gradualmente se alargam e a água flui em direção ao rio de energia. Esse é a via da atividade.
Com uma graça mais forte, a rapidez do derretimento reúne todas as correntes em direção ao centro do gelo, que por sua vez se comunica com a água ao redor; os pingentes de gelo — representações ou imagens — permanecem nas profundezas, mas basta que afundem e se percam na força do rio que os leva para que desapareçam: esse é a via do conhecimento.
Se a graça é superabundante, todo o gelo cai de uma vez com a erupção de um poderoso vulcão subaquático que sobe à superfície e cujas chamas deslumbram: essa é a via da vontade.
Na Não Via, há apenas uma e a mesma água… (Hermès I, p. 75)