Silburn (Hermes1:63) – véu da dualidade

No Xivaísmo, o Senhor, a fim de ocultar sua Essência luminosa, esconde livremente sua autonomia, bem como sua consciência, com a ajuda da energia da grande Ilusão (mahā-māyā) e faz aparecer em seu próprio Si homogêneo, como espaço, uma limitação que se estende a todos os seres. Ele encolhe e cristaliza suas energias de liberdade onipotente, onisciência, plenitude, eternidade e onipresença, que, perdendo sua infinidade, tornam-se nada mais que atividade fragmentadora, ciência diferenciada, desejo restrito, tempo e necessidade causal.

Assim, assume o aspecto de múltiplos sujeitos conscientes submissos à ilusão (māyā), escravizados por um conhecimento limitado que não está de forma alguma em Śiva, mas pertence ao indivíduo, que, tendo perdido a intuição do Si por causa dessa dupla ilusão, acredita ser limitado, imperfeito, confundindo o eu com o Si.

Nesse estágio, o grande jogo do Amor em êxtase e em superabundância torna-se a alternativa escravizante. Esquecendo-se de sua glória nativa, o homem afunda na confusão; imaginando-se desprovido de plenitude, deseja as formas que são privadas dela e as torna suas. Em uma busca desesperada fora de si mesmo, se perde na inquietação, no “desejo fragmentado” (essa expressão de Dionísio é perfeitamente apropriada aqui), no conhecimento limitado no qual os jogos do Amor, do conhecimento, da fecundidade da ação se tornam separação, ignorância, dispersão, quer essa perda seja chamada, de acordo com a tradição, de ilusão, falta original ou véu.

(Hermès I, p. 63)

Lilian Silburn (1908-1993)