“O Símbolo (como toda manifestação) revela a Ideia (o arquétipo) ao fazê-la acessível aos sentidos através da arte (o divino ou o humano que o imita); e ao mesmo tempo a oculta, vela e disfarça ao recobri-la de uma forma, a qual é inevitável para sua expressão humana”. [M. Plana]
Os símbolos são sempre pluridimensionais. Exprimem, de fato, relações terra–céu, espaço-tempo, imanente-transcendente, como a taça voltada para o céu ou para a terra. Esta é uma primeira bipolaridade. A outra: sendo síntese de contrários, o símbolo tem uma face diurna e uma face noturna. Além do mais, muitos dentre esses binários possuem analogias entre si que também se exprimem como símbolos. Estes últimos poderiam ser do segundo grau, tal como o nicho ou a cúpula sobre seu pedestal em relação à taça isolada. Em vez de basear-se no princípio da exclusão de terceiros, como a lógica conceitual, a “simbólica”, ao contrário, pressupõe um princípio da inclusão de terceiros, isto é, de uma possível complementaridade entre os seres e uma solidariedade universal que são percebidas na realidade concreta da relação existente entre dois seres ou dois grupos de seres, ou entre muito mais de dois (…) O símbolo, pluridimensional, é susceptível de um número infinito de dimensões. No momento em que alguém percebe uma relação simbólica, encontra-se na posição de centro do universo. Um símbolo só existe em função de uma determinada pessoa, ou de uma coletividade cujos membros se identifiquem de modo tal que constituam um único centro. Todo o universo articula-se em torno desse núcleo. Esta é a razão pela qual os símbolos mais sagrados para uns são apenas objetos profanos para outros: o que revela a profunda diversidade de suas concepções. A percepção de um símbolo, a epifania simbólica, situa-nos, com efeito, dentro de um determinado universo espiritual. Da mesma maneira, jamais se deve separar os símbolos de seu acompanhamento existencial; jamais deles eliminar a aura luminosa no seio da qual nos foram revelados, como, por exemplo, no grande e sagrado silêncio das noites, diante do firmamento imenso, majestoso, e envolvente. O símbolo está ligado a uma experiência totalizante. Não lhe podemos apreender o valor, a não ser que nos transportemos em espírito para o meio global onde ele realmente vive. Gérard de Champeaux e D. Sterckx realçaram de modo ainda mais perfeito essa natureza particular dos símbolos: condensam, no cerne de uma única imagem, toda uma experiência espiritual; […] transcendem lugares e tempos, situações individuais e circunstâncias contingentes; (…) solidarizam as realidades aparentemente mais heterogêneas, relacionando-as todas a uma mesma realidade mais profunda, que é sua última razão de ser (ibid. 202). Por acaso essa realidade mais profunda não será o centro espiritual com o qual se identifica, ou do qual participa, aquele que percebe o valor de um símbolo? É em relação a esse centro, cuja circunferência respectiva não está em parte alguma, que o símbolo existe. [DS]