VIDE Yoga
A palavra Ioga deriva de uma raiz sânscrita, YUJ (Raiz que encontramos também nas palavras latinas jugum, jungere, no inglês, yoke, no francês, joug, joindre, jonction, no português, jugo, juntar, etc.), que significa «atrelar, juntar, unir». São duas as interpretações tradicionais do sentido da palavra. Segundo a primeira, o Ioga é a «união do ser individual (jivatman) com o Princípio supremo (Paramatman)» (Definição formulada pela primeira vez por Yajna-vailkya). De acordo com a segunda, o Ioga é a coordenação, a unificação dos diversos elementos do psiquismo humano, comparados a cavalos fogosos que teriam sido’ disciplinados e atrelados ao mesmo carro.
Este duplo sentido não é acidental. O segundo é como que um reflexo do primeiro no plano do manifesto, pois o domínio perfeito do psiquismo só surge quando o indivíduo realizou a «junção» com o Eu universal. Na ordem temporal, porém, o segundo significado tem obrigatoriamente de preceder o primeiro, pois o homem só pode realizar a sua identificação com o Eu supremo depois de ter dominado o seu ser vulgar e harmonizado os diferentes níveis da sua personalidade. A união ao Eu incondicionado pressupõe o domínio do Eu condicionado. A palavra Ioga significa pois simultaneamente o objetivo (a união) e o método (a unificação). Na medida porém em que se dirige não aos «perfeitos» (siddha), mas antes aos seres que ainda não realizaram a sua razão de ser nesta vida, é como método que nos interessa conhecê-lo. Neste sentido, o Ioga dirige-se ao homem tal como este nos surge na sua maneira de ser habitual: mutável, diverso, contraditório, incoerente, disperso, cego, propondo-lhe um ajustamento progressivo, que culmina no domínio perfeito do seu «veículo» psicofísico. Esse ajustamento e essa integração permitem-lhe possuir-se a si mesmo e atingir um estado incomparavelmente superior à sua condição atual, com o qual nem sequer ousa sonhar: o estado absolutamente incondicionado, liberto de todas as limitações, a que a tradição indiana dá o nome de «Libertação» (moksha), quando o considera em comparação com os modos limitados de ser, e de «União» (Ioga), quando se refere ao Princípio supremo.
É essa a finalidade era direção à qual toda a tradição indiana orienta os seus esforços e a sua reflexão: «Toda a ciência que não tem em vista a Libertação é inútil» (Bhoja, Rajmaartanda, IV, 22). «Fora isso, nada merece ser conhecido» (Shvetashvatara-Up. I, 12). O Ioga é pois, por assim dizer, a pedra angular do hinduísmo (Consideramos a palavra hinduísmo no seu sentido lato e não restrito, englobando portanto o bramanismo antigo).
O Ioga só se preocupa com a «realização» efetiva, e não com a especulação: é pois a via, o método por excelência, que inclui a totalidade dos meios a utilizar. E na medida em que se podem distinguir no Ioga diversos métodos, mais particularmente adaptados a este ou àquele tipo psicológico, podemos falar ide diferentes Iogas: cada um desses logas é uma das principais vias correspondentes às aptidões fundamentais da natureza humana. Cada indivíduo é livre de escolher a forma de Ioga que tenha mais afinidades com o seu caráter, as suas aspirações e as suas capacidades, podendo ainda recorrer a uma combinação específica dessas várias formas. O Bhagavad-Gita (Cântico dos Céus), texto central do induísmo, equivale nesse aspeto a um exemplo de uma fusão harmoniosa de diferentes vias, com os seus dezoito capítulos, cada um dos quais (à excepção de um, o undécimo, intitulado «Visão da Forma Universal») tem por título o nome de um Ioga diferente. [Michaël]
Se me é permitido fazer referência à minha limitada experiência pessoal, eu acrescentaria que, em 1928, quando, jovem estudante, me dediquei à ioga e ao tantra sob a orientação de S. N. Dasgupta, na Universidade de Calcutá, podiam-se contar nos dedos os livros bons e profundos sobre essa matéria. Hoje, existem talvez 50 ou 60 publicações sérias e algumas delas contêm edições e traduções de textos sânscritos e tibetanos considerados secretos, ou seja, de circulação exclusiva entre os membros de certas seitas. (É verdade, contudo, que esses textos são quase ininteligíveis sem o comentário oral de um mestre.) Além disso, enquanto há meio século se julgava a maior parte dos textos iogues e tântricos como tolice pura ou produto de faquires ignorantes e psicopatas adeptos da magia negra, pesquisas ocidentais e hindus têm provado amplamente sua coerência teórica e seu grande interesse psicológico. [Eliade]