Sabe-se que, dentre os diversos objetos que a lenda associa ao Graal, aparece uma lança que, na adaptação cristã, seria a do centurião Longinos, que abriu no costado de Cristo a ferida de onde saíram o sangue e a água recolhidos por José de Arimateia no cálice da Santa Ceia. Porém, não é menos verdade que essa lança, ou alguns de seus equivalentes, já existia como símbolo de algum modo complementar ao cálice em tradições anteriores ao cristianismo. Poderíamos mencionar, entre os diferentes casos em que a lança é empregada como símbolo, similaridades curiosas que vão até os detalhes; assim, por exemplo, entre os gregos, admitia-se que a lança de Aquiles curava os ferimentos que causava; a lenda medieval atribui a mesma virtude à lança da Paixão.
A lança, quando está colocada verticalmente, é uma das representações do “Eixo do Mundo”, que se identifica ao “Raio Celeste” de que falávamos há pouco. Podemos lembrar também, a propósito, as frequentes assimilações do raio solar a armas como a lança ou a flecha, sobre as quais não cabe insistir aqui. [Guénon]
A lança que, na lenda do Graal, aparece como um símbolo complementar do cálice (a complementaridade da lança e do cálice é estritamente comparável à da montanha e da caverna), é ainda uma das inúmeras representações do “Eixo do Mundo”. Ao mesmo tempo, essa lança também é um símbolo do “Raio celeste”, e é evidente que as duas significações coincidem no fundo. Isso explica igualmente por que a lança, tal como a espada e a flecha que lhe são equivalentes, seja às vezes assimilada ao raio solar. [Guénon]
Lembraríamos também que a lança da lenda do Graal, tal como a lança de Aquiles que já relacionamos a este tema, tinha o duplo poder de infligir ferimentos e curá-los. [Guénon]