A figuração heterogênea conhecida em Java pelo nome de Kala-makara, e na qual os traços do leão estão combinados com os do Makara, tem ainda uma significação essencialmente solar, ao mesmo tempo em que, devido ao seu aspecto de Makara, refere-se mais em particular ao simbolismo de Varuna. Enquanto este se identifica a Mrityu ou a Yama, o Makara é o crocodilo (shishumara ou shimshumarí) de mandíbulas abertas que se mantém “contra a corrente” e representa o caminho único pelo qual todo ser deve necessariamente passar, constituindo-se desse modo no “guardião da porta”, que esse ser deve transpor para se libertar das condições limitativas (simbolizadas também pelo pasha de Varuna) que o retêm no domínio da existência contingente e manifestada. Por outro lado, o mesmo Makara é, no Zodíaco hindu, o signo de Capricórnio, isto é, a “porta dos Deuses”. Há, portanto, dois aspectos aparentemente opostos, “benéfico” e “maléfico”, se se quiser, que correspondem também à dualidade de Mitra e de Varuna (reunidos em par indissolúvel sob a forma dual Mitravarunau), ou à do “Sol diurno” e do “Sol noturno”, o que equivale a dizer que, conforme o estado a que chegou o ser que se apresenta diante dele, sua boca é para este a “porta da Libertação” ou as “mandíbulas da Morte”. Este último caso é o do homem comum, que deve passar pela morte, retornar a um outro estado de manifestação, enquanto que o primeiro é o do ser que está “qualificado para passar através do meio do Sol”, por intermédio do “sétimo raio”, pois já está identificado ao próprio Sol. E, assim, diante da pergunta, “quem és tu”, que lhe é colocada quando chega a essa porta, pode responder verdadeiramente: “Eu sou Tu.” [Guénon]
O Makara hindu, que é também um monstro marinho, ainda que tenha antes de tudo significação “benéfica” ligada ao signo de Capricórnio, cujo lugar ocupa no Zodíaco, nem por isso deixa de ter, em muitas representações, alguns traços que lembram o simbolismo “tifoniano” do crocodilo. [Guénon]