morada do coração

O que diz respeito à “alma vivente” que reside no coração, refere-se apenas, ao menos diretamente, a um domínio intermediário, que constitui na verdade o que se pode chamar de ordem psíquica (no sentido original da palavra grega psyche) e não ultrapassa a consideração da individualidade humana como tal. Daí, portanto, é necessário elevar-se ainda a um sentido superior, ou seja, o sentido puramente espiritual ou metafísico; apenas devemos notar que a superposição desses três sentidos corresponde exatamente à hierarquia dos “três mundos”. Assim, o que reside no coração, de um primeiro ponto de vista, é o elemento etéreo, mas não consiste apenas nisso; de um segundo ponto de vista, é a “alma vivente” e que também não se resume a isso, pois o coração representa essencialmente o ponto de contato do indivíduo com o universal, ou, em outros termos, do humano com o Divino, ponto de contato este que se identifica naturalmente com o próprio centro da individualidade. Por conseguinte, faz-se necessária aqui a intervenção de um terceiro ponto de vista, que se pode dizer “supra-individual”, pois ao exprimir as relações do ser humano como Princípio, ultrapassa por isso mesmo os limites da condição individual, e é desse ponto de vista que se diz por fim que o próprio Brahma reside no coração, ou seja, o Princípio divino do qual procede e depende inteiramente toda existência, e que, do interior, penetra, sustenta e ilumina todas as coisas. O Éter, no mundo corporal, pode também ser considerado como o que tudo produz e tudo penetra; é por isso que os textos sagrados da Índia e seus comentários autorizados o apresentam como um símbolo de Brahma. O que se designa como “o Éter no coração”, no sentido mais elevado, é portanto Brahma, e, por conseguinte, o “conhecimento do coração”, quando alcança o seu grau mais profundo, identifica-se na verdade ao “conhecimento divino” (Brahma-vidya). Esse próprio conhecimento divino pode ser ainda de duas espécies, “não supremo” (apara) ou “supremo” (para), que correspondem respectivamente ao mundo celeste e ao que está além dos “três mundos”. Essa distinção, no entanto, apesar de sua extrema importância do ponto de vista da metafísica pura, não interfere nas considerações que estamos expondo, o mesmo acontecendo com os dois diferentes graus em que, correlativamente, a própria “União” pode ser considerada. [Guénon]

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