Eu dificilmente poderia encontrar uma introdução melhor para o que tenciono discutir neste artigo. Mommsen ilustra admiravelmente o significado existencial de “viver em seu próprio mundo”. Seu mundo real o único que era relevante e dotado de significação, era o mundo clássico greco-romano. Para Mommsen, o mundo dos gregos e dos romanos não era simplesmente história, ou seja, um passado morto, recuperado através de uma anamnese historiográfica; era o seu mundo – aquele lugar onde ele podia se movimentar, pensar e gozar a felicidade de ser vivo e criativo. Eu não sei se ele sempre necessitava de um criado para levá-lo para casa. Provavelmente não. Como a maioria dos pesquisadores criativos, ele provavelmente vivia em dois mundos: o universo das formas e valores, a cuja compreensão ele dedicava sua vida e que correspondia, de certa maneira, ao mundo “cosmicizado”, e daí, “sagrado” dos primitivos; e o mundo “profano” no qual ele foi “lançado”, como diria Heidegger. Mas então, na velhice, Mommsen obviamente se sentia separado do espaço profano, não essencial, sem sentido e, em última análise, caótico da Berlim moderna. Se podemos falar de sua amnésia com relação ao espaço profano de Berlim, temos também que reconhecer que essa amnésia era compensada pela incrível anamnese de tudo que dizia respeito ao mundo existencial de Mommsen, ou seja, o universo clássico greco-romano. Mommsen vivia num mundo de arquétipos em sua velhice. [Eliade]
Eliade: mundo real
TERMOS CHAVES: mundo