Por ter Adão recebido de Deus o conhecimento da natureza de todos os seres vivos é que pôde dar-lhes os nomes (Gênesis 2, 19-20). Todas as tradições antigas concordam ao ensinar que o verdadeiro nome de um ser estabelece uma unidade com sua natureza ou sua própria essência. (Guénon)
O verdadeiro nome de um ser nada mais é, do ponto de vista tradicional, que a expressão da própria essência desse ser. A reconstituição de um nome é portanto, simbolicamente, a mesma coisa que a reconstituição do próprio ser. (Guénon)
Designa, da maneira mais genérica, o signo linguístico enquanto se relaciona à estabilidade da realidade externa. Esta maneira de visualizar a linguagem (como nomenclatura) é, em todas as culturas, a mais antiga, sem dúvida porque ela se enraíza na prática social da doação de nomes às pessoas humanas.
É certo que o sistema dos nomes de pessoa engaja uma reflexão linguística. Nos Wik Munkan da Austrália, por exemplo, isto dá lugar a uma rica nomenclatura: distingue-se os verdadeiros nomes próprios (namp), os termos de parentesco (namp kampan), os apelidos (namp yann), e os três nomes pessoais do indivíduo: o nome “umbilical” (namp kort’n), o grande nome (namp pi’in) e o pequeno nome (namp many). O sistema dos nomes de pessoa estabelece a relação dos nomes às coisas sobre o terreno da motivação, do ato originário que fixa sua relação, e das ligações mágicas que podem existir entre os dois. Mesmo se se pode demonstrar que o sistema dos nomes próprios (aqueles dos deuses em particular) ocupa um lugar importante nas especulações linguísticas gregas (notoriamente com a etimologia como verdade da nominação), é sobre outro terreno que as funções lógicas e linguísticas do nome aparecem. Na China, por exemplo, a Escola dos Nomes (Ming Chia) distinguia o nome (ming) e a atualidade (shi), para referenciar (até utilizar) argumentos sofísticos desde o século VI antes de nossa era. Nos “cânones mohistas” que formam parte lógica da obra de Mo-tzu (século V AC), a atualidade é concebida como aquilo de que se fala e o nome aquilo que serve para dela falar (em grego, a oposição onoma / pragma, os nomes e as coisas). Os nomes se classificam em três classes: os gerais, que convêm a todas as coisas, os classificadores (nomes comuns) e os nomes próprios. Na tradição ocidental, depois do grande esforço linguístico dos sofistas, Platão, se discute a origem e a verdade dos nomes (Crátilo), reconhece sobretudo que a verdade, em sentido próprio, é o fato, não da nominação, mas do discurso (logos), composto de duas partes: o nome / sujeito (onoma) e o verbo / predicado (rhema). É o estudo lógico das condições de verdade que levará os estoicos a distinguir o nome próprio e o nome comum. (NP)