pedra bruta

a pedra bruta tem um sentido diferente do que ocorre no caso dos altares hebraicos, ao qual é preciso acrescentar o dos monumentos megalíticos. E isso acontece porque tal sentido não se refere ao mesmo tipo de tradição. A compreensão desse ponto é fácil para todos aqueles que têm conhecimento das considerações que expusemos sobre as diferenças essenciais que existem, de uma forma geral, entre as tradições dos povos nômades e as dos povos sedentários. Aliás, quando Israel passou do primeiro desses estados ao segundo, a proibição de levantar edifícios com pedras talhadas desapareceu, pois ela não tinha mais razão de ser, como testemunha a construção do Templo de Salomão, que com certeza não foi um empreendimento profano, e à qual se liga, pelo menos de forma simbólica, a própria origem da maçonaria. Pouco importa, a esse respeito, que os altares tenham então continuado a ser feitos de pedras brutas, pois trata-se de um caso muito particular, para o qual o simbolismo primitivo podia ser conservado sem qualquer inconveniente, enquanto que, por outro lado, é evidentemente impossível construir o mais modesto edifício com tais pedras. E que “nada de metálico possa encontrar-se” nos altares como também assinala o autor do artigo em questão, isso se refere ainda a uma outra ordem de ideias, que também já explicamos em outra oportunidade, e que se encontra, aliás, na própria maçonaria com o símbolo do “despojamento de metais”.
[…] Para os entalhadores de pedra e para os construtores que empregavam os produtos desse trabalho, a pedra bruta representava a “matéria-prima” indiferenciada, ou o “caos” com todas as suas correspondências, tanto microcósmicas quanto macrocósmicas, enquanto que a pedra completamente talhada em todas as suas faces representava, ao contrário, o acabamento ou a perfeição da obra. Aí está a explicação da diferença que existe entre o significado simbólico da pedra bruta no caso dos monumentos megalíticos e dos altares primitivos, e o significado da pedra bruta na maçonaria. Acrescentaremos, sem poder aqui insistir mais sobre o assunto, que essa diferença corresponde ao duplo aspecto da matéria-prima, segundo seja vista como a “Virgem universal” ou como o “caos” que é a origem de toda manifestação. Na tradição hindu, de igual modo, Prakriti é ao mesmo tempo a pura potencialidade, que está literalmente debaixo de toda existência, e também um aspecto de Shakti, ou seja, a “Mãe divina”. Deve ficar bem entendido que esses dois pontos de vista não são de modo algum excludentes entre si, o que aliás justifica a coexistência de altares de pedras brutas com edifícios de pedras talhadas. Essas considerações mostrarão ainda que, como em todas as outras coisas, para a interpretação dos símbolos é preciso sempre saber situar cada elemento em seu exato lugar, sem o que se corre o risco de cair em erros dos mais grosseiros. [Guénon]

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