peixe

O simbolismo do peixe, que se encontra em grande número de formas tradicionais, inclusive no cristianismo, é muito complexo e apresenta múltiplos aspectos que exigem ser determinados com precisão. No que se refere às origens desse símbolo, parece ser necessário reconhecer-lhe uma procedência nórdica, e mesmo hiperbórea. Com efeito, assinalou-se sua presença na Alemanha do Norte e na Escandinávia, e, nessas regiões, parece estar muito mais perto de seu ponto de partida do que na Ásia Central, para onde foi levado, sem dúvida, pela grande corrente que partiu diretamente da Tradição primordial e, a seguir, deu nascimento às doutrinas da Índia e Pérsia. Podemos também notar que, de modo geral, certos animais aquáticos desempenham um papel especial no simbolismo dos povos do Norte; citaremos apenas como exemplo o polvo, difundido em particular entre os escandinavos e os celtas, e que ainda pode ser encontrado na Grécia arcaica, como um dos principais motivos da ornamentação micênica.

Um outro fato que vem apoiar essas considerações é que, na Índia, a manifestação sob a forma do peixe (Matsya-avatara) é vista como a primeira de todas as manifestações de Vishnu, ocorrida no início do ciclo atual, o que a coloca em relação imediata com o ponto de partida da tradição primordial. (Guénon)


Sob a forma de peixe, Vishnu, no fim do Manvantara que precede o nosso, aparece a Satyavrata, que vai se tornar, sob o nome de Vaivaswata, o Manu ou o Legislador do ciclo atual. Anuncia-lhe que o mundo vai ser destruído pelas águas e ordena-lhe que construa a arca na qual deverão ser encerrados os germes do mundo futuro. Depois, sempre sob essa mesma forma, ele próprio guia a arca sobre as águas durante o cataclismo. Essa representação da arca conduzida pelo peixe divino torna-se tanto mais notável, na medida em que encontramos o seu equivalente no simbolismo cristão. O sr. Charbonneau-Lassay cita, em estudo, “o ornamento pontifical decorado com figuras bordadas que envolvia os restos de um bispo lombardo do século VIII ou IX, no qual se vê uma barca conduzida pelo peixe, imagem de Cristo sustentando sua Igreja”. (Guénon)

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