O sentido mais geral que se atribui a essa letra, seja no hebreu ou no árabe, é o de “força” ou de “poder” (qowah, em árabe), que pode ainda, segundo o caso, ser de ordem material ou de ordem espiritual. É bem esse o sentido que corresponde, de modo imediato, ao simbolismo de uma arma tal como o machado. No caso em que nos ocupamos no momento, é evidente que se trata de um poder espiritual. Isso resulta do fato de que o machado está colocado em relação direta, não com o cubo, mas com a pirâmide. E poderia ser lembrado aqui a equivalência do machado com o vajra, que é também, antes de tudo, o signo do poder espiritual. E mais, o machado está colocado não em um ponto qualquer, mas, como dissemos, no topo da pirâmide, que é frequentemente considerado como representação do topo de uma hierarquia espiritual ou iniciática. Essa posição parece indicar o mais alto poder espiritual em ação no mundo, ou seja, o que todas as tradições designam como “Polo”. Podemos também lembrar o caráter “axial” das armas simbólicas em geral e do machado em particular, o que está claramente em perfeito acordo com tal interpretação.

O notável é que o próprio nome da letra qaf é também, na tradição árabe, o nome da Montanha sagrada ou polar. A pirâmide, que é essencialmente uma imagem da Montanha sagrada, traz assim, portanto, através dessa letra ou do machado que a substitui, sua própria designação enquanto tal, como que para não deixar subsistir qualquer dúvida sobre a significação que lhe deve ser reconhecida tradicionalmente. Além disso, se o símbolo da montanha ou da pirâmide está relacionado ao “Eixo do Mundo”, seu topo, onde se encontra colocada essa letra, identifica-se de forma mais particular ao próprio Polo. E qaf equivale numericamente a maqam, o que designa esse ponto como o “Lugar” por excelência, isto é, o único ponto que permanece fixo e invariável em todas as revoluções do mundo.

A letra qaf é além disso, a primeira do nome árabe para o Polo, Qutb, e, nesse sentido, pode servir para designá-lo abreviadamente, de acordo com um processo empregado com grande frequência. Mas existem ainda outras concordâncias muito surpreendentes (v. Polo). (…) Ao mesmo tempo, o cubo, sobre o qual repousa a base da pirâmide ou da hierarquia, por ela representada e onde o Qutb ocupa o topo, é também, por sua forma, um símbolo da estabilidade perfeita. (Guénon)

Oriente Médio