Muhyi-d-din Ibn ‘Arabî — TRATADO DA UNIDADE (Risalatul Ahadiyah)
Contribuição e tradução de Antonio Carneiro da versão espanhola de Roberto Pla com base na edição francesa publicada na revista “Être”, primeiro trimestre de 1977, traduzida do árabe por Abdul-Hadi. Málaga, Ed. Sirio, 1987.
Sua existência está unicamente nos textos da profecia. Entretanto, só Ele existe e não pode deixar de existir posto que jamais veio à existência (1). Por isso disse o Profeta: “Quem se conhece a si mesmo conhece ao seu Senhor” (2). Também disse: “Conheço ao meu Senhor, por meu Senhor” (3). O Profeta de Allah quis fazer-te compreender que tu não és tu, mas sim Ele: Ele e não tu; que Ele não cabe em ti e tu não cabes em Ele; que Ele não sai de ti e tu não sais de Ele (4).
(1) É o não nascido (à existência perceptível pela mente) e portanto, sem existência mortal. Se não teve nascimento, também carece de morte. Dito de outra maneira: A não-existência, se refere ao mundo — visível ou invisível — que “está” dentro do campo de percepção da mente ativa. Ele não é movimento e o que se move — a mente ativa — não pode conhecê-lo.
(2) Primeira referência ao “hadith”, ou frase célebre do Profeta que dá pé ao presente Tratado. Se o conhecimento do Senhor, se infere disso a identidade de ambos conhecimentos. A consequência desta identidade é de uma enorme importância metafísica, mística e religiosa em geral, pois uma vez feito o descobrimento de tal identidade fica aberto para o homem um imenso e rico trabalho, ao fundamentar-se para ele a verdadeira vida religiosa, ou seja a Via para a realização da Unidade.
(3) É uma corroboração do “hadith”. O si mesmo é o Senhor e o Senhor é o só mesmo, logo o conhecimento do Senhor chega sempre pelo conhecimento do Senhor.
(4) O como diz Al-Hallaj: “Eu sou Aquele a quem amo e o que amo é eu. Se me vês, O vês e se O vês, nos contemplamos os dois”.