Wei Wu Wei (AA:4) – Aquele que se faz aplaudir

tradução

Quando criança fui levado ao circo. Lá, vi uma longa série de performances fascinantes que levavam homens e animais a executar todo tipo de manobra surpreendente e inesperada. E por toda parte, mas particularmente quando o cenário e suas aparências estavam sendo alteradas, aparecia uma personagem grotesca, parecendo vagamente um ser humano, que interferia em tudo, mas não fazia nada. Ela caia sobre os tapetes, esbarrava em todos os objetos, era esbofeteada e chutada, e depois recebia todos os aplausos como se fosse responsável por tudo. Nós a achávamos muito engraçada e ríamos dela como qualquer coisa.

Agora que não sou mais criança, ela me parece uma imagem perfeita do conceito-eu, cuja função é aparentemente dela e cuja performance corresponde em todos os aspectos à do palhaço, no circo que é a nossa vida. Sob todos os aspectos, exceto um: rimos do palhaço no circo, mas levamos a sério o palhaço no circo da vida, embora um seja tão ineficaz quanto o outro. Nós até acreditamos que ele é responsável pela performance, enquanto, quando crianças, podíamos ver que ele não era responsável por nada que acontecesse, que sua “vontade” era totalmente ignorada pelas circunstâncias às quais era submetido e que, em todos os casos, ele era um incômodo desnecessário.

Em um aspecto, no entanto, nossa atitude não mudou: em ambos os circos, amamos o palhaço e o consideramos mais importante do que qualquer outra coisa no show.


Original

When I was a child I was taken to the circus. There I saw a long series of entrancing performances that caused men and animals to execute every kind of astonishing and unexpected manoeuvre. And throughout, but particularly when the scenario and its appurtenances were being changed, there appeared a grotesque personage, vaguely resembling a human being, who interfered with everything but effected nothing. He fell over the carpets, bumped himself against every object, was slapped and kicked, and then took all the applause as though he were responsible for everything. We thought him very funny and laughed at him like anything.

Now that I am no longer a child he seems to me to be a perfect image of the I-concept, whose function is apparently his, and whose performance corresponds in all respects with that of the clown, in the circus which is our life. In all respects but one: we laughed at the clown in the circus, but we take seriously the clown in the circus of life, although the one is as ineffectual as the other. We even believe that he is responsible for the performance, whereas as children we could see that he was responsible for nothing that happened, that his ‘will’ was totally ignored by the circumstances to which he was subjected, and that in every event he was an unnecessary nuisance.

In one respect, however, our attitude is unchanged: in both the circuses we love the clown dearly and consider him more important than anything else in the show.

Wei Wu Wei