Wei Wu Wei (TM:70) – aspectos secundários do tempo

tradução

‘Tempo’, conceituado como um objeto, nunca poderia fazer sentido, pois não tem existência objetiva de qualquer espécie. É apenas nossa vida sequencial. É, talvez, o próprio viver da vida. Objetivamos isso por meio de relógios e nos convencemos de que os relógios medem ‘isso’, enquanto o que eles medem é a nossa vida. Quando perdemos ou pegamos um trem, perdemos ou pegamos um relógio. Quando medimos a duração do dia e da noite, da infância e da idade, estamos medindo nossa própria serialidade e chamando-a de “tempo”. Tempus não foge: é a nossa vida sequencial que se vê passageira. ‘Tempo’ é uma invenção, uma hipótese desenvolvida por nosso desejo de objetivar o subjetivo: a palavra representa um aspecto de nossa vontade de nos afirmar como entidades que funcionam em um universo de objetos dos quais somos os sujeitos autônomos. Nós o inventamos como um elemento de auto-afirmação. Não existe tal ‘coisa’, nunca existiu, nunca poderia existir. É uma objetivação do aspecto sequencial de nós mesmos. É simplesmente a nossa duração aparente que tentamos separar de nós mesmos e nos tornamos uma “coisa” por si mesma. Nós o montamos como se fosse algo independente, fizemos uma imagem dele [Pai Tempo], colocamos em um pedestal, ora o idolatrando como um bezerro de ouro, ora considerando-o como um inimigo e usando-o como um tímido ! Em nenhuma circunstância de nossa serialidade viva, ela é alguma coisa, exceto a própria serialidade aparente.


Segue-se, portanto, que o aspecto primário do tempo, ou duração, por meio do qual todos os fenômenos se tornam perceptíveis, é um elemento inerente à nossa própria subjetividade, e tudo o que atribuímos ao “tempo” é parte integrante da nossa percepção. Necessariamente, então, deve ser uma dimensão do que somos; na verdade, não deve ser uma direção de medida diferente das três que produzem a aparência da forma [comprimento, largura e altura], que é o volume? O que de fato pode ser apenas uma outra direção de medição interpretada, não espacialmente como as outras três, mas tornada perceptível apenas como sequência ou duração, que é um elemento integrante em nossa fenomenalização pela qual nos tornamos aparentes como objetos – como objetos que parecem durar?

Mas tais direções de medição, espaciais ou interpretadas como sequência, não são objetos como tais. São, por assim dizer, medidas do que somos a partir do centro do que somos, um “centro” cujo ser infinito é onipresente. Representam conceitualmente o que somos, medindo-se para se manifestar, o númeno tornando-se fenomenal por meio do volume e da duração tridimensionais. São conceituados de forma que o que intemporalmente somos pode ser analisado e compreendido, mas não têm existência objetiva como coisas-em-si. Não são mais do que um esquema pelo qual podemos compreender, tanto quanto possível, esta nossa intemporalidade no processo de se tornar manifesto como aquele fenômeno temporal.


Original

‘Time’, conceptualised as an object, could never make sense, for it has no objective existence whatever. It is just our sequential living. It is, perhaps, the living itself of life. We objectify it by means of clocks, and persuade ourselves that clocks measure ‘it’, whereas what they are measuring is our life. When we miss or catch a train we miss or catch a clock. When we measure the duration of day and night, childhood and age, we are measuring our own seriality and calling it ‘time’. Tempus does not fugit: it is our sequential living which is seen as fleeting. ‘Time’ is an invention, a hypothesis developed by our urge to objectivise the subjective : the word represents an aspect of our volition to affirm ourselves as entities functioning in a universe of objects of which we are the autonomous subjects. We have invented it as an element of self-affirmation. There is no such ‘thing’, never was, never could be. It is an objectivisation of the sequential aspect of ourselves. It is simply our apparent duration which we have tried to separate from ourselves and have turned into a ‘thing’ in its own right. We have set it up as if it were something independent, made an image of it [Father Time], put it on a pedestal, sometimes worshipping it as a golden calf, sometimes regarding it as an enemy and using it as a coconut-shy! Not in any circumstance of our living seriality is it ever any thing but that apparent seriality itself.


It follows, therefore, that the primary aspect of time, or duration, by means of which all phenomena become perceptible is an element inherent in our own subjectivity, and whatever we attribute to ‘time’ is part and parcel of our perceiving. Necessarily, then, it must be a dimension of what we are, indeed must it not be a direction of measurement which is other than the three which produce the appearance of form [length, breadth and height], which is volume? What indeed can it be but a further direction of measurement [148] interpreted, not spatially like the other three, but rendered perceptible only as sequence or duration, that is an integral element in our phenomenalisation whereby we become apparent as objects — as objects which appear to last ?

But such directions of measurement, spatial or interpreted as sequence, are not objects as such. They are, so to speak, measurements of what we are from the centre of what we are, a ‘centre’ which being of infinity is ubiquitous. They represent conceptually what we are, measuring itself in order to manifest itself, noumenon becoming phenomenal by means of tri-dimensional volume and duration. They are conceptualised in order that what intemporally we are may be analysed and understood, but they have no objective existence as things-in-themselves. They are no more than a schema whereby we may comprehend, as far as that may be possible, this our intemporality in the process of becoming manifest as that temporal phenomenon.

Wei Wu Wei