Frances Yates — O Iluminismo Rosa-Cruz
A comunicação inicial que a Confessio faz ao leitor, contém esta espantosa declaração: “Assim, como agora, todos nós sem exceção, livremente, com firmeza e sem remorso, chamamos de Anticristo o Papa de Roma, — o que no passado era considerado pecado mortal e fazia com que os homens em todos os países fossem condenados à morte — da mesma forma sabemos com certeza que virá o tempo em que o que conservamos em segredo, abrir-se-á francamente, e em voz alta será anunciado e confessado ante o mundo inteiro.”1
As frases iniciais da Confessio associam-se intimamente com a Fama. Seja o que for que o leitor tenha ouvido a respeito da Fraternidade, apregoada pelo som da trombeta da Fama, não deve ser acreditado precipitadamente ou rejeitado — diz o autor da Confessio. Jeová, vendo o mundo ruir, está novamente levando-o às suas origens. Em sua Fama, os Irmãos revelaram a natureza de sua Ordem, e é evidente que ela não pode ser suspeita de heresia. Relativamente à reforma da filosofia, o programa é o mesmo como na Fama. Os eruditos da Europa são mais uma vez exortados a responder ao convite fraternal da Ordem, e a cooperar com seus esforços.
A Confessio mostra-se entusiasta quanto aos profundos conhecimentos do Pai R.C., cujas meditações referentes a todos os assuntos excogitados desde a criação, propagados pela habilidade humana, ou através do serviço dos anjos ou espíritos, são tão perfeitas que, se todos os outros conhecimentos se perdessem, seria possível reedificar, unicamente com elas, a morada da verdade. Não seria agradável subjugar a fome, a pobreza, a enfermidade e a velhice, e conhecer todos os países da terra com seus segredos, ler num só livro tudo o que se contém em todos eles? “Como seria agradável que pudésseis cantar, que pudésseis, em vez de pedras, tirar das rochas pérolas e pedras preciosas, em vez de animais ferozes, espíritos. . .”
Quando a Trombeta da Ordem soar com todo seu clangor, essas coisas, que no momento são apenas sussurradas como enigmas, surgirão e encherão o mundo, e a tirania do Papa será abatida. O mundo tem assistido a muitas alterações desde o nascimento do Pai R.C., e muitas mais ainda estão por vir. Mas antes do fim, Deus permitirá que um grande influxo da verdade, da luz e de dignidade — iguais às que cercaram Adão no Paraíso — seja derramado sobre a humanidade. Novas estrelas surgirão nas constelações Serpentária e Cisne2 que representam os indícios da vinda dessas coisas.
O segundo manifesto repete a mensagem do primeiro, embora com maior fervor e intensidade. Um enérgico aviso profético e apocalíptico soa através dele: o fim está próximo, aparecerão novas estrelas prenunciando milagres, a grande reforma deve ser um milénio, um regresso ao estado de Adão no Paraíso.
Citado na tradução de Thomas Vaughan. Consultar Fame and Confession, ed. Pryce, p. 33. ↩
As “novas estrelas” nas constelações Serpentária e Cisne, que apareceram em 1604, foram comentadas por Johannes Kepler, o qual julgou que elas anunciavam mudanças políticas e religiosas. A obra de Kepler, De Stella nova in pede Serpentarii; De Stella incognita Cygni foi publicada em Praga, 1606 (reedição Kepler, Gesammelte Werke, ed. M. Caspar, 1938, I, pp. 146 e ss.).
John Donne também se interessou profundamente por essas novas estrelas; consultar C. M. Coffin, John Donne and the New Philosophy, Columbia University Press, 1937, pp. 123 e ss. ↩