Frances Yates — O Iluminismo Rosa-Cruz
Andreas Libavius
Um deles foi Andreas Libavius, um nome muito conhecido na história Química antiga. Libavius foi um daqueles “químicos” até certo ponto influenciados pelos novos ensinamentos de Paracelso, no sentido de que aceitava o emprego, na medicina, de medicamentos químicos recentes, defendido por Paracelso, enquanto que teoricamente aderia aos ensinamentos tradicionais aristotélicos e galénicos e rejeitava o misticismo paracelsista1. Aristóteles e Galeno aparecem honrosamente colocados na página-título do principal trabalho de Libavius, a Alchymia, publicado em Frankfurt, 1596. Os manifestos rosa-cru-cianos atacam Aristóteles e Galeno, como uma característica da antiquada rigidez de espírito. Se Libavius sentira-se pessoalmente alvejado nesse ataque por paracelsistas entusiastas do ensinamento tradicional, não podemos dizer, mas certamente a sua crítica aos manifestos rosa-cruzes torna-se antagônica àqueles “químicos” que, iguais ao ímpio Paracelso, pouco diferem dos mágicos. Ele acusa os autores dos manifestos de não compreenderem a alquimia séria e científica, que substituem por especulações incultas, e propõe as suas “bem-intencionadas observações” como instruções, através das quais deveriam admitir seus erros, por terem recebido uma base da verdadeira alquimia científica.
Libavius criticou a Fama e a Confessio rosa-cruzes em vários trabalhos; o mais importante deles é chamado “Well-meaning Observations on the Fama and Confession of the Brotherhood of the Rosicrucians”, publicado em Frankfurt, 16162. Baseando-se nos textos dos dois manifestos, Libavius faz sérias objeções a eles nos terrenos científico, político e religioso. Libavius é firmemente contra as teorias da harmonia macromicrocósmica, contra a “Magia” e a “Cabala”, contra Hermes Trismegistus (de cujas supostas obras faz muitas citações), contra Agripa e Thritemius — resumindo, ele é contra a tradição renascentista conforme transmitida aos autores dos manifestos R.C. e no espírito dos quais eles interpretam Paracelso. Libavius considera tudo isso como subversivo da tradição aristotélica e galénica, como de fato era, e critica firmemente os manifestos, por partirem da ortodoxia.
É digno de nota que num trabalho publicado anos antes, em 1594, Libavius atacara a Monas hieroglyphica, de Dee, mencionando os elementos cabalísticos nele constantes, e que ele desaprovava3. Por conseguinte, ele certamente seria capaz de reconhecer a influência da Alonas de Dee nos manifestos rosa-cruzes, o que confirmaria a sua reprovação por eles.
Também é significativo Libavius frequentemente mencionar Oswald Croll em seus opúsculos contra os rosa-cruzes, parecendo associar suas doutrinas àquelas de Croll, com o qual também não se afina. Cita e reprova o prefácio de Croll em sua Basílica, perto do início de suas “observações bem-intencionadas”.
Consultar J. R. Partington, History of Chemistry, Londres, 1961, II, pp. 244 e ss. Libavius não rejeitou a própria alquimia; consultar John Read, Prelude to Chemistry, Londres, 1936, pp. 213-21. ↩
A. Libavius, Wohlmeinendes Bedencken der Famautid Confession der Brudprschaft des Rosencreulzes, Frankfurt, 1616. Outros trabalhos em latim de Libavius, contra os manifestos rosa-cruzes, estão impressos no Appendix necessária syntagmatis arcanorum chymicorum, Frankfurt, 1615, reeditados tm Frankfurt, 1661, com um título ligeiramente diferente. Consultar Ian Macphail, Alchemy and the Occult, A Catalogue of Books and Manuscripts from the Collection of Paul and Mary Mellon, Yale, 1968, I, p. 71. ↩
A. Libavius, Tractatus duo de Physici, Frankfurt, 1594, pp. 46-71; cf. François Secret, Les Kabbalistes Chrétiens de la Renaissance, Paris, 1964, p. 138. ↩