vimarśa: esse é um termo importante no Trika, mas que é difícil de entender (e traduzir). vimarśa vem de vi-MŖŚ: tocar, sentir, dar-se conta, perceber, refletir, examinar, experimentar, hesitar (prefixo vi), portanto: consideração, reflexão, teste, crítica, conhecimento, inteligência — no Abhidharmakośa: dúvida, exame. Esse termo é usado com frequência nos textos do Trika e com uma ampla gama de significados. Vimarśa é primeiramente definido em relação a prakāśa, como vimos. É, então, a percepção da pura luz da Consciência, a livre atividade da consciência, o que lhe dá vida: sa prakāśajīvitasvabhāvo vimarśah (I.P.v., I, 5, 20); corresponde ao aspecto energético da consciência e é idêntico a parā vāk. Esse aspecto de energia, de atividade, de vida, de vimarśa é sublinhado pelo fato de que frequentemente nos deparamos com a expressão: vimarśaśakti, energia da consciência, enquanto śakti nunca é associada ao termo prakāśa. É, portanto, realmente o aspecto energético da consciência, aquele que manifesta o universo, e é assim que vimarśa entra em cena em conexão com os mantras AHAM (ou MAHA); assim, no P.T.v. páginas 55, 58, ou novamente na página 75, onde Abhinavagupta acrescenta que aham-vimarśa é liberdade total e maravilha indiferenciada. No I.P.v., Abhinavagupta diz, de forma semelhante, que o Senhor Supremo manifesta o universo graças à sua atividade, ou onipotência (kartŗtvāt), que vimarśaśakti caracteriza (I.P.v., I, 5, 15; — vol. 1, pp. 267-8).
Mas há ainda outros usos de vimarśa: essa percepção ativa e viva é de fato considerada a condição do sujeito consciente (pramātŗ) na medida em que percebe o mundo e reage. Assim, no I.P.v. (II, 3, 10-11), a percepção de diferentes objetos que pralyavamarśa faz com que sejam concebidos como idênticos é vimarśa: yo vimarśah saivāyam padārtha ityekapratyavamarśarūpah (vol. 2, p. 117). Finalmente, vimarśa pode ser associado à fala (vāg-vimarśa) e, nesse caso, esse termo tem o mesmo valor que pratyavamarśa, estando, como ele, ligado a uma enunciação interior (antarabhilāpa), que é uma forma sutil e não-manifesta de linguagem na qual a linguagem empírica é ontológica e epistemologicamente baseada (I.P.v., II, 4, 18).
O valor de vimarśa que está presente aqui é o da energia da Consciência que manifesta o universo. Essa manifestação é descrita como se estendendo até o nível mais baixo da fala e, portanto, como ligada aos estágios da fala. Portanto, podemos presumir que há pelo menos uma alusão aqui ao papel de vimarśa na filosofia da fala do Xivaísmo da Caxemira.
Quanto à tradução, traduzo vimarśa como “consciência” ou “consciência ativa”, ou, às vezes, quando vimarśa é correlativo de prakāśa, como “atividade livre da Consciência”, traduções insatisfatórias.