Conferência dos Pássaros — O PARDAL
O Pardal
Veio então o Pardal, de corpo frágil e terno coração, tremendo da cabeça aos pés, como se fora uma chama. E disse:
— Estou atônito e desanimado. Não sei como existir e sou frágil como um fio de cabelo. Ninguém me ajuda, e sequer tenho a força de uma formiga. Não possuo penugem nem penas — nada. Como há de um covarde como eu viajar até onde está o Simurgh? Um pardal nunca o faria. Não faltam no mundo os que procuram essa união, mas ela não se coaduna com um ser como eu. Não desejo encetar uma jornada trabalhosa como essa por algo que jamais alcançarei. Se eu partisse em busca da corte do Simurgh, acabaria morrendo no caminho. Portanto, já que não estou, de modo algum, em condições de levar a cabo o empreendimento, contentar-me-ei com procurar aqui o meu José no poço. Se o encontrar e o tirar dali, alçarei voo com ele do peixe à lua.
A Poupa recalcitrou:
— Ó tu, que em teu desalento és por vezes triste, por vezes alegre, não me iludem tuas alegações artificiosas. Pequeno hipócrita! Até na humildade mostras uma centena de sinais de vaidade e orgulho. Nem mais uma palavra! Techa o bico e põe-te a caminho. Se morreres, morrerás com os outros. E não te compares a José!