Os “dilúvios” são uma característica normal e recorrente do ciclo cósmico, ou seja, do período (para) de vida de um Brahma, equivalente a 36.000 kalpas, ou “dias” do tempo angélico. Em particular, o naimittikapralaya no final de cada kalpa (o encerramento de um “dia” do tempo angélico e equivalente ao “Juízo Final” cristão) e o prakrtikapralaya no final da vida de um Brahma (o encerramento de um “dia” do Tempo Superno) são essencialmente a resolução das existências manifestadas em sua potencialidade indeterminada, as Águas; e cada ciclo renovado de manifestação é um nascimento no próximo “dia” das formas latentes como potencialidade nas águas do reservatório do ser. Em cada caso, as sementes, ideias ou imagens da manifestação futura persistem durante o intervalo ou intertempo de resolução em um plano superior de existência, sem serem afetadas pela destruição das formas manifestadas.
Quanto a isso, é claro que se perceberá que o simbolismo cronológico, inevitável do ponto de vista empírico, não pode ser considerado como realmente caracterizando a atualidade atemporal de todas as possibilidades de existência no presente indivisível do Absoluto, para Quem toda a multiplicidade é refletida em uma única imagem. Assim, uma vez que não pode haver destruição das coisas como elas são no Si-mesmo, mas apenas das coisas como elas são em si mesmas, a eternidade, ou melhor, a atemporalidade das ideias, é uma necessidade metafísica. Daí a concepção de outro tipo de transformação, um atyantika pralaya, uma resolução última ou absoluta, a ser realizada pelo indivíduo, como sua Realização, quando ou onde quer que ele esteja: de fato, quando, por meio da autonadificação, um homem efetua para si mesmo a transformação das coisas como elas são em si mesmas e as conhece apenas como elas são no Si, ele se torna imortal — não relativamente, como os Devas, que duram apenas até o fim do Tempo — mas absolutamente, como independente do tempo e de todas as outras contingências. Deve-se notar que as ideias (imagens, tipos) em questão não são exatamente ideias platônicas, mas ideias ou tipos de atividade, uma vez que o conhecimento e o ser do Si (Self) consistem em puro ato; no simbolismo cronológico, sua eficácia criativa é expressa nos termos de adrsya ou apurva karma, de “consequência latente” ou “invisível”.
(1946)