1. De acordo. Entretanto, a forma de cognição que é a memória, embora surja da impressão latente depositada pela percepção direta anterior, é restrita a si mesma (ātmanișțham) e não conhece a percepção original.
— A memória, embora surja do despertar da impressão latente depositada pela percepção anterior, por estar restrita a si mesma, conhece exclusivamente sua própria forma. Não se pode afirmar que a memória determina o objeto anteriormente percebido, uma vez que [a memória] não penetra na percepção direta anterior.
2. Uma cognição é autorreveladora (svābhāsaiva) e não pode ser objeto de outra cognição, assim como a cognição do gosto não é conhecida pela cognição da forma. O fato de que [a memória] surge de impressões latentes implica sua semelhança com a percepção anterior, mas não sua cognição disso (tadgatih).
— Todo ato cognitivo é, por natureza, consciente apenas de si mesmo (svasamvedanaikarūpā) e não se torna objeto de outra cognição: se a cognição da forma pudesse apreender a cognição do gosto e vice-versa, então uma perceberia o objeto da outra e, dessa forma, toda restrição à atividade dos sentidos individuais deixaria de existir. Uma vez que a memória surge da impressão latente deixada pela percepção anterior, tem apenas uma semelhança com essa percepção, mas não tem cognição direta da última; e, além disso, como não há cognição dessa percepção anterior (tadabhāvāt), nem mesmo a semelhança com ela pode ser mantida.
3. [Alguns poderiam objetar que] a memória aparece erroneamente (bhrāntyā) como tendo como seu objeto algo diretamente percebido (dŗșțālambanatā), sendo reduzida, em vez disso, à única atividade determinante dirigida a eles (tadavasāyatah), apesar do fato de que nunca entraram diretamente em sua esfera cognitiva (atadvișayatve ‘pi). Mas essa objeção também é inconsistente.
— E nem mesmo se pode afirmar que a memória os tem como seu objeto apenas erroneamente, no sentido de que torna-o objeto de sua própria atividade determinante (adhyavasyati) a percepção direta anterior e seu objeto, que na realidade não são experimentados, como acontece quando alguém afirma que vê prata quando se depara com madrepérola.
4. Como é possível reduzir a verdadeira natureza da memória a isso? (smrtitaiva katham tāvad). E como é possível que o estabelecimento de objetos (arthasthitih) ocorra graças ao erro? E, se for esse o caso, que sentido há em alegar dependência das impressões latentes deixadas pela percepção direta anterior?
— A memória não pode ser identificada com algo que deriva apenas do conhecimento determinante (adhyavasāyamātrāt), estando o objeto da percepção anterior ausente (tadvișayasampramoșe) porque [a percepção anterior] não se manifesta [na memória, de acordo com sua concepção]. Tampouco se pode considerar que o estabelecimento definitivo de um objeto percebido anteriormente seja devido a um erro. E, além disso, [se é uma questão de ‘erro’] por que insistir tanto no fato de que a memória — concebida como erro — surge das impressões latentes, quando, ao contrário, ela é diferente da percepção direta anterior de todos os pontos de vista, (tadbhinnayogakșemāyāh), não entrando em contato com ela de forma alguma?
5. Se o conhecimento determinante (avasāyasya) é erro, como pode, sendo insciente, estabelecer objetos? Se, ao contrário, é concebido como sendo senciente, como pode, restrito como é a si mesmo e à sua própria ideação (nijollekhanișțhāt), estabelecer a realidade objetiva?
— É apenas o conhecimento determinante (adhyavasāyah) que — erroneamente — estabelece os objetos, e não sua autoconsciência (svasamvit).
Se esse for o caso, é insciente e — sendo insciente — como pode causar o estabelecimento de objetos? Assim, mesmo que se reconhecesse que é insciente, [isso deve ser entendido de forma limitada, ou seja, no sentido de que] só seria capaz de tornar manifestos objetos pertencentes ao passado, ou iluminar apenas objetos não externos — ele mesma e sua própria ideação (abāhyasvātmollekhamātraprakāśah) — e, portanto, não poderia ser igualmente aceita como a causa do estabelecimento de objetos de que estamos tratando.
6. Assim, o funcionamento do mundo humano — que se origina precisamente da unificação (anusamdhāna) das cognições, em si mesmas separadas umas das outras e incapazes de conhecer umas às outras — seria destruído…
— As cognições são restritas apenas a si mesmas (svātmamātraparinișțhitāni) e não podem ser objeto de outras cognições (aparasamvedyāni), sendo por natureza [exclusivamente] conscientes de si mesmas. Mas, então, como seria possível a dimensão da atividade e do comportamento humano (lokavyavahārah) — que culmina no ensino da realidade absoluta —, uma vez que isso consiste precisamente na interconexão entre os objetos de conhecimento? (anyonyavișayasamghațțanāmayah).
7… se não houvesse Maheśvara, que contém em si todas as formas infinitas, que é uno, cuja essência é a consciência, possuindo os poderes de conhecimento, memória e exclusão.
— A unificação mútua [unicidade] de todas as cognições das coisas é [constituída pelo] princípio da consciência (cittattvam) cuja forma é tudo, uma vez que nada distinto dela é admissível. Os poderes do conhecimento etc. pertencem apenas a esse princípio da consciência. Foi dito: “De mim derivam a memória, o conhecimento e as exclusões”.