Aprofundar este sentido criativo da Oração, é ver como ela cumpre cada vez por sua parte este voto deo Ser Divino aspirando a criar o universo dos seres, a se revelar neles para ser conhecido de si mesmo, em resumo o voto do Deus absconditus ou Theos agnostos aspirando à Teofania. Cada oração, cada instante de cada oração, é então uma recorrência da Criação (tajdid al-khalq), uma Criação nova (khalq jadid), tal como vimos anteriormente o sentido. À criatividade da Oração está ligado o sentido cósmico da Oração, este sentido que percebia tão bem Proclus na oração do heliotropo. Este sentido cósmico aparece em duas espécies de homologações que esboçam Ibn Arabi e seus comentadores, e que têm este extremo interesse de nos mostrar o sufismo reproduzindo, no Islã mesmo, as démarches e configurações mentais da consciência mística conhecidas alhures, notadamente na Índia. Uma destas homologações consiste para o orante a se representar a si mesmo como sendo o Imã de seu próprio microcosmo. Uma outra consiste em homologar os gestos rituais da Oração (realizada privadamente) com os «gestos» da Criação do universo que é o macrocosmo. Estas homologações subentendem o sentido da Oração como criadora; elas preparam, fundamentam e justificam a finalização visionária, posto que precisamente como criação nova, ela significa epifania nova (tajalli). Progredimos assim para o encerramento: a Imaginação criadora à serviço da Oração criadora, na concentração de todos os poderes do coração, a himma.
(CorbinIbnArabi)