Conhecer não é apreender abstratamente por meio do jogo do intelecto. Conhecer é participar do objeto conhecido. Conhecer Deus é, para o homem, tornar-se participante da natureza divina. Isto implica que Deus está em nós. Portanto, Deus deve nascer em nós. O nascimento de Deus, que é a revelação, não ocorre em um lugar infinitamente distante de cada um de nós. É na pessoa humana que Deus nasce e é revelado.
Para usar uma linguagem moderna, que não é a de Boehme, diríamos que Deus nasce nas profundezas de nossa subjetividade. Boehme não se expressa dessa forma, mas o que o inspira é a experiência mística do crente cuja alma dá à luz a Cristo. A teosofia de Boehme é enxertada no misticismo cristão.
Deus se dará a conhecer ao homem gerando nele. Mas, ao mesmo tempo, Deus conhecerá a si mesmo. A Divindade oculta de Boehme não conhece a si mesma. Deus se conhecerá no homem, assim como será conhecido pelo homem. Por outro lado, conhecendo Deus, o homem conhecerá a si mesmo. Sem Deus, o homem não conhece a si mesmo.
Para conhecer a si mesmo, Deus deve gerar a si mesmo. Até que essa geração seja realizada, Deus aparece para nós apenas como o Nada. Como o Nada poderia conhecer a si mesmo? Deus puro espírito, Deus considerado antes dessa jornada que o levará a criar para se dar a conhecer e conhecer a si mesmo, essa Deidade, tomada em si mesma, tem a perfeita tenuidade do Nada. Esse Nada terá de produzir algo para que Deus possa ser compreendido e apreendido. É nesse algo que Deus brilhará e contemplará sua própria glória.