A cognição seria impossível se a consciência fosse incapaz de realizá-la. Essa capacidade é o ser/estar-ciente reflexivo que tem de si mesmo como pura consciência do “eu”. Quando é condicionada pelo objeto de conhecimento, que, por sua vez, é condicionado pelas forças e leis que governam o universo físico (todos os quais são aspectos do poder de Māyā), opera como cognição, memória e todas as outras funções da mente. Em outras palavras, a cognição é o ser/estar-ciente reflexivo do “eu” limitado pelas afecções impostas a ela pela variedade de manifestações externas geradas por essa própria consciência de “eu”. Livre de toda associação com objetos externos, o indivíduo compartilha da bem-aventurança de Deus, que é a experiência que Ele desfruta em repouso em Sua própria natureza. Esse bem-aventurado ser/estar-ciente-de-si (vimarśa) é a condição permanente do sujeito, mesmo quando percebe o mundo e reage. É a atividade interna do princípio Spanda, que é a maravilha inspirada (camatkāra) da consciência, da qual os poderes da vontade, do conhecimento e da ação fluem como fases em seu ritmo vibratório (spanda).
Normalmente, o sujeito individual não reconhece a natureza criativa desse fluxo de ser/estar-ciente (jnānadhārā) de e para o objeto no ato da cognição. Não está ciente de que modela, a partir de sua própria consciência, as várias formas que povoam seu campo objetivo de ser/estar-ciente. No nível universal da subjetividade, entretanto, esse movimento do interior para o exterior e vice-versa é vivenciado dentro da consciência como o surgimento e a destruição de todo o universo. Consequentemente, o ser/estar-ciente reflexivo (vimarśa) é caracterizado como ação (kriyā), que é o fluxo do Devir, enquanto a Luz (prakāśa) é conhecimento (jnāna) ou Ser passivo. Em outras palavras, ser/estar-ciente é ato criativo de tornar a realidade conhecida, enquanto a Luz é atualidade de se conhecer. A última, sem a primeira, seria um princípio inativo, um estado de puro potencial que nunca poderia se atualizar em um ato de ser/estar-ciente. Desse ponto de vista, os dois aspectos de ser/estar-ciente são:
Karma Vimarśa. Quando o ato de ser/estar-ciente é dirigido externamente e coincide com o desdobramento (vikāsa) da expansão do universo (prapanca) a partir do absoluto.
Kriyā Vimarśa. Quando essa atividade ainda é ilimitada e infinita, completamente internalizada dentro do absoluto como sua agência (kartṛtva), sem ser perturbada por qualquer objetivo de ação (kārya) como a pura vibração ou agitação (saṃrambha) da consciência.
O Śaiva rejeita a visão dos Vedāntin de que o conhecimento é incomensurável com a ação. O conhecimento e a ação juntos constituem a base da vida cotidiana e da vida de todos os seres vivos. Um nunca está sem o outro; funcionam de mãos dadas. No nível universal, o poder da ação desenvolve formas a partir do pleroma da consciência, enquanto o poder do conhecimento as torna manifestas. No nível individual, representam os pólos objetivo e subjetivo de toda atividade senciente. Como o ser/estar-ciente interno de que “eu sou” (ahaṃ), o conhecimento é o referente estável de todas as ações. Persiste indiviso em todas as ações, por mais diversas que sejam. Se não fosse assim, correr, por exemplo, seria impossível, nem conseguiríamos entender uma frase dita com pressa.
Enquanto nosso ser/estar-ciente-de-si (svasaṃvedana) nos informa de sua existência, a ação, assim iluminada pelo conhecimento, é o ser/estar-ciente de que “eu ajo”. Juntos, são o ser/estar-ciente puro do “eu” (ahaṃ) como a subjetividade que conhece e age, que é a natureza Spanda interna da consciência.