O Xivaísmo iguala o absoluto totalmente à consciência. A realidade é somente a consciência pura (samvid). Consciência e Ser são sinônimos. Experimentar a identidade essencial entre eles é desfrutar da bem-aventurança (ānanda) da realização. O vedantino advaita sustenta que, em um sentido primário, a realidade não pode ser caracterizada de nenhuma maneira específica, mas afirma que, secundariamente, podemos concebê-la como “Ser–Consciência–Beatitude (saccidãnanda)”. O ser, entendido como uma substância absoluta (que não é substancial em um sentido material), é o modelo para a concepção Advaita de consciência. O Xivaísmo monista, por outro lado, considera a consciência como o modelo básico pelo qual entendemos Ser. Consciência, do ponto de vista do vedantino, é o paralelo microcósmico do Ser macrocósmico. Ser é o substrato real do universo e a consciência é o substrato da personalidade individual (jīva). Portanto, consciência, assim como Ser, é perfeitamente inativa, um puro plenum noético: conhecimento como tal, sem um objeto de conhecimento ou mesmo ser/estar-ciente-de-si. Sustenta que consciência é autônoma; é uma realidade eterna que não depende da mente ou do corpo para sua existência. Nesse ponto, os xivaítas e os vedantinos concordam. Abhinava desdenha das visões materialistas; sem pretender ser educado, ele diz,
Alguns tolos consideram que nada além do corpo existe porque o movimento surge do corpo, cuja propriedade é a consciência, que, por sua vez, é uma só com a respiração vital. Essa concepção, peculiar a indivíduos (de baixo status) como crianças, mulheres e idiotas, é elevada pelos materialistas ao status de um sistema.
O conceito de consciência é a base firme sobre a qual a metafísica do Xivaísmo de Caxemira é construída. Quase se poderia descrevê-la como uma psicologia da consciência absoluta. Consciência é mais do que o ser/estar-ciente que um indivíduo tem de si mesmo e de seu ambiente; é um princípio eterno que tudo permeia. É a realidade mais elevada (paramārtha) e todas as coisas são uma manifestação dessa consciência (cidvyakti). Todas as entidades, sem distinção, são da natureza da consciência e, portanto, pode-se afirmar positivamente que a realidade é uma “massa compacta de consciência e bem-aventurança” (cidānandaghana). Não há buracos ou lacunas em nenhum lugar da realidade onde a consciência esteja ausente. Está eternamente e felizmente em repouso dentro de sua própria natureza (svãtmaviśrānta), livre de toda associação com qualquer coisa fora dela. Livre de todo desejo por qualquer coisa (nirākāñkşa) e independente (nirapekşa), não olha para ninguém além de si mesmo (ananyamukhaprekşiri).
A natureza essencial (svabhāva) dessa consciência universal pura é a verdadeira natureza do Ser. Como o sujeito supremo que ilumina e conhece todas as coisas, é chamado de “Grande Luz” (mahāprakāśa), que é incriada e nunca pode ser ensinada (aśrauta). Descrita figurativamente como o sol da consciência, sua luz absorve a dualidade em seu brilho, banhando todo o universo com o esplendor de sua radiância divina. Tornando todas as coisas unas com sua natureza, ele as transforma no círculo sagrado (mandala) de seus próprios raios. Consciência não é apenas absoluta, também é divina. É Śiva, o Senhor (cinnātha) do universo. Como a identidade autêntica (ātman) de todos os seres vivos, consciência é objeto supremo de adoração, a verdadeira natureza da Deidade. Consciência é Deus e Deus é consciência em virtude de sua própria natureza; onipotência, onisciência e todos os outros atributos divinos são, de fato, atributos da consciência. Bhagavatotpala, comentando as Estrofes sobre Vibração, cita:
Em nenhum de seus estados [ó Senhor] consciência está ausente. Portanto. és adorado apenas como a densa massa de consciência do iogue.
Consciência não é uma testemunha passiva (sākşin), mas está repleta de atividade consciente (citikriyā) por meio da qual gera o universo e o reabsorve em si mesma no final de cada ciclo de criação. A liberdade (svātantrya) da consciência para fazer isso é seu poder soberano (aiśvarya), em virtude do qual é o único Deus que governa o universo inteiro. A liberdade absoluta para conhecer e fazer todas as coisas é a principal característica da Deidade:
O poder governante do Senhor Supremo, cuja natureza é Sua própria natureza eterna e única como agência pura (kartŗtā), cuja essência é o brilho divino pulsante (sphurattā) da luz de consciência.