Vimos como o caráter dinâmico (spanda) da consciência absoluta é a sua liberdade de assumir qualquer forma à vontade por meio da diversificação ativa da consciência (vimarśa) no tempo e no espaço, quando é direcionada para o objeto da consciência e assume a forma dele. O movimento da consciência absoluta é um movimento criativo, uma transição do estado incriado de Ser para o estado criado de Devir. Nesse sentido, o Ser está em um estado de perpétuo Devir (satatodita); constantemente se fenomenaliza em uma expressão finita. O brilho do Ser interior é a manifestação do Devir exterior e, como tal, é a fonte constantemente autorrenovadora de seu próprio aparecimento como Devir. Assim, o caráter universal (sāmānya) do Ser é expresso na forma radiante (sphurattā) de cada fenômeno. Corretamente compreendidos, o Ser e o Devir são as faces interna e externa da consciência universal que se manifesta espontaneamente, por meio de seu poder inerente, como essa polaridade. A face interna (antarmukha) da consciência é o sujeito puro que, desprovido de todo conteúdo objetivo, permanece além dos domínios do tempo e do espaço. As Stanzas sobre Vibração declaram: “Esse ser interior é a morada da onisciência e de todos os outros atributos divinos. Ele nunca pode deixar de existir porque nada mais pode ser percebido (fora dele)”.
A face externa da consciência representa a diversidade e a mudança contínua do universo manifesto — o objeto. Embora o exterior pareça ser uma realidade distinta, separada do interior, o interior contém a totalidade do exterior que aparece dentro dele sem dividir sua natureza: “A internalidade”, escreve Utpaladeva, “é um estado de unidade com o sujeito, enquanto a externalidade é o estado de separação dele”. Novamente:
Tendo se manifestado, a consciência permanece tanto como o (sujeito) interno quanto como o (objeto) externo. Brilha aí (dentro de si mesma) de tal forma que parece estar iluminando (alguma) outra (realidade).