Evola Mara

Julius Evola — A DOUTRINA DO DESPERTAR
Mara
Depois de ter indicado as diversas possibilidades do «nascer», deve-se ressaltar o que segue: se o budismo reconhece a existência de um outro mundo, até mesmo de outros mundos, outras condições de existência além da condição terrestre, «celestes», estes mundos celestes, eles também, são considerados como estando sujeitos à lei de dukkha. As entidades divinas — devas — existindo em suas hierarquias, análogas às hierarquias angélicas da teologia ocidental: todavia, não como seres eternos. Embora sua duração seja infinitamente longa vis a vis do tempo dos homens — deva dighayuka — é ainda fato que, para eles, sucederá também um declínio e um fim — jaramarana. No caso extremos, isto deve ser entendido como se referindo ao ensinamento geral, relativo às leis cíclicas, considerando a reabsorção de todas as formas manifestadas — aí compreendido as formas supremas — no princípio não manifestado, que lhes é, a todas, superior e anterior. Sabe-se que com a doutrina do eões, dos saecula, e dos anos cósmicos, as antigas tradições ocidentais conheceram, elas também, visões análogas.

Diremos, de passagem, que o budismo conhece, em Mara, uma personificação do princeps huius mundi. Se, etimologicamente, Mara reconduz a Mrtyu, o precedente deus hindu da morte, ele se apresenta aqui como o poder que se encontra na raiz da existência samsarica inteiramente e que se reafirma em todos os lugares onde há identificação passiva, apego, ligação de desejo, satisfação, qualquer que seja o plano de existência ou o «mundo», e logo igualmente o plano espiritual. Mara, que tem por filhas Tanha, Rati e Arati — quer dizer Concupiscência, Amor e Ódio — é aquele que dispõe as iscas, a fim de que, atraídos e a ponto de se satisfazer, os seres caiam em seu poder e que, paralisados pela mania, reentrem sem impedimentos na corrente da existência efêmera. É igualmente aquele que, encarnando precisamente o caráter efêmero da existência samsarica e aparecendo também enquanto deus da morte, surpreenda e tome, a um dado momento, um homem afeito por tal ou tal bem, «como uma inundação»surpreende e toma «um vilarejo adormecido». Mara se encontra em estreita relação com a «ignorância». Pode agir, enquanto não é conhecido. «Ele não me conhece» — tal é a condição de seu agir. No momento que, ao contrário, não mais ofuscado, o fixa, seu poder é paralisado.



Julius Evola