Fernandes (SFFC:173-174) – Anatman

Enquanto sujeito, ou seja, se não somos sábios — ou indivíduos —, somos “quase” iguais um ao outro, é o que nos dizem as Ciências Humanas e Sociais. É enquanto indivíduos, ou seja, pelo que há de sábio em cada um de nós, que nos distinguimos. Se eu fosse onisciente, derivar-se-ia trivialmente de Conheço x => Não sou x (Erro de Descartes), que eu só poderia ser o Sujeito Transcendental ou Ego Puro. Mas, se não só eu fosse onisciente, mas também você o fosse, pelo princípio de Identidade dos Indiscerníveis, eu e você seríamos o mesmo Ego Puro (no Oriente, Atman). Se fôssemos oniscientes, portanto, seria incompreensível, para nós, como podemos ser diferentes. De fato, a autêntica Individualidade como forma de consciência, é inconcebível para todos que, em todas as épocas, levam a reflexão transcendental ao seu extremo limite, e fazem coincidir esse limite — sempre um Ego — p. ex., com “Deus”, o “Ser”, a “Consciência” etc. Para estes, toda e qualquer diferença é, em última instância, da ordem das sombras. A confusão da Consciência com o Ego é sempre uma “viagem do ego”, disfarçada numa trama de hipocrisias. A raiz de todos esses erros está na confusão da Sabedoria com a onisciência, ou seja, o erro fenomenológico-transcendental por excelência. O monista, o idealista absoluto, o “realista” enquanto fenomenólogo, do Advaita Vedanta ao Idealismo Alemão e a Husserl, é levado forçosamente a postular uma variante ou outra de um Atman, ainda que sob a máscara do “Ego transcendental”. Ora, a correção desse erro tem estado à disposição da humanidade desde o final do século VI a.C., na doutrina budista do Anatman.