Goethe, Dichtung und Wahrheit

(Deghaye2000)

Ao ler este relato, somos levados a interpretar retrospectivamente a reação de Goethe quando, ainda jovem estudante em Leipzig, ele visitou o museu de Dresden. O discípulo de Friedrich Oeser, que pregava o evangelho do Belo sob a invocação de seu amigo Winckelmann, não deveria se apressar em direção às obras antigas? Pois bem, não. Ele também não foi ver a Madona Sistina, que Winckelmann, apesar de seu “paganismo”, muito curiosamente considerava como a obra-prima da imitação das obras gregas. Isso não poderia ser indiferença; era uma recusa.

O relato do oitavo livro de Dichtung und Wahrheit é particularmente revelador a esse respeito. Vemos ali o jovem Goethe entrando nesse museu como em um santuário. Mas por que ele só viu quadros de pintores holandeses? Por que ele não se dirigiu aos testemunhos da escultura antiga? Ele recusou-se a vê-los, segundo suas próprias palavras, assim como tudo o que Dresden oferecia de precioso para contemplar. Ora, o motivo invocado merece nossa reflexão: o jovem neófito tinha a convicção de que muitas coisas ainda deveriam permanecer ocultas para ele.

Para cada grande evento que marca a vida do homem, há um tempo de maturação, que corresponde ao de uma realização. Em Dresden, ainda não havia chegado a hora de trazer ao poeta a revelação da escultura antiga e da pintura de Rafael. Goethe considera que não está preparado para receber essa revelação. Ele aplica a si mesmo a sabedoria que os esotéricos reivindicam, citando as famosas palavras de Cristo: “Tenho ainda muitas coisas a lhes dizer, mas vocês não podem suportá-las agora.”

Vale notar que na evocação tardia de Dichtung und Wahrheit, a viagem a Dresden é apresentada como uma escapada e prefigura, assim, a partida para a Itália. O jovem Goethe foge de Leipzig exatamente como o poeta deixará Weimar, ou seja, em segredo. Ele tinha ouvido falar da arte antiga por Oeser, aprendeu muito com o Laocoon de Lessing e sentia um desejo muito intenso de ver grandes obras. Ele decide ir a Dresden, mas, como mais tarde quando parte para a Itália, não diz nada a ninguém. No entanto, há uma diferença crucial em relação à viagem à Itália: em Dresden, ele se recusa a ver as obras que ansiava contemplar.

Resta um mistério que o enche de temor, pois dele emana uma luz que cega. Mas esse mistério também o fascina. É o mistério do homem, da face humana exaltada na obra de arte e sobre a qual resplandece a aura do sagrado.

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