tradução
Nas Índias são reconhecidas duas classes de escrituras: a Shruti, ou obras inspiradas que possuem sua própria autoridade, uma vez que são o produto de uma percepção imediata da Realidade Ultima, e a Smriti, baseada sobre a Shruti, de onde deriva sua autoridade. “A Shruti”, nas palavras de Shankara, “depende da percepção direta”. A Smriti desempenha uma parte análoga à indução, uma vez que, como a indução, deriva sua autoridade de outra diferente de si mesma. Este livro é, portanto, uma antologia, com comentários explanatórios de passagens retiradas da Shruti e da Smriti de muitos locais e épocas. Infelizmente, a familiaridade com as escrituras tradicionalmente consideradas sagradas tende a gerar, não decerto um desdém, mas alguma coisa que, para objetivos práticos, é quase igualmente maléfica — ou seja, uma espécie de reverente insensibilidade, um estupor do espírito, uma surdez interna ao significado das palavras sagradas. Por essa razão, ao selecionar o material para ilustrar a doutrina da Filosofia Perene, como são formuladas no Ocidente, quase sempre procurei outras fontes que não a Bíblia. Esta Smriti cristã, da qual recolhi exemplos, é baseada na Shruti dos livros canônicos, mas tem a grande vantagem de ser menos conhecida, tornando-se, portando, mais clara e, por assim dizer, mais audível. Além disso, muitas dessas Smriti constituem o trabalho de homens e mulheres genuinamente santos, que se qualificaram para saber, antes de tudo, o que estavam falando. Consequentemente, pode ser considerada em si mesma uma válida e inspirada forma de Shruti — em grau bem maior que muitos dos textos hoje incluídos no cânone bíblico. [Huxley, Filosofia Perene]
original
In India two classes of scripture are recognized: the Shruti, or inspired writings which are their own authority, since they are the product of immediate insight into ultimate Reality; and the Smriti, which are based upon the Shruti and from them derive such authority as they have. “The Shruti,” in Shankara’s words, “depends upon direct perception. The Smriti plays a part analogous to induction, since, like induction, it derives its authority from an authority other than itself.” This book, then, is an anthology, with explanatory comments, of passages drawn from the Shruti and Smriti of many times and places. Unfortunately, familiarity with traditionally hallowed writings tends to breed, not indeed contempt, but something which, for practical purposes, is almost as bad—namely a kind of reverential insensibility, a stupor of the spirit, an inward deafness to the meaning of the sacred words. For this reason, when selecting material to illustrate the doctrines of the Perennial Philosophy, as they were formulated in the West, I have gone almost always to sources other than the Bible. This Christian Smriti, from which I have drawn, is based upon the Shruti of the canonical books, but has the great advantage of being less well known and therefore more vivid and, so to say, more audible than they are. Moreover much of this Smriti is the work of genuinely saintly men and women, who have qualified themselves to know at first hand what they are talking about. Consequently it may be regarded as being itself a form of inspired and self-validating Shruti—and this in a much higher degree than many of the writings now included in the Biblical canon.