Aldous Huxley: Filosofia Perene relacionada ao Uno

tradução

[…] A Filosofia Perene é, primariamente, relacionada ao uno, à Realidade Divina substancial ao múltiplo mundo das coisas, das vidas e pensamentos. Mas a natureza desta Realidade Una é tal que não pode, direta e imediatamente, ser apreendida, exceto por aqueles que foram escolhidos por preencherem certas condições, tornando-se puros de coração, cheios de amor e pobres de espírito. Por que tem de ser assim? Não sabemos. É um desses fatos que temos de aceitar, queiramos ou não, apesar de toda a sua aparente implausibilidade. Nada em nossa experiência cotidiana nos dá qualquer razão para supor que a água é feita de hidrogênio e oxigênio; e, todavia, submetendo a água a certos tratamentos drásticos, a natureza dos seus componentes torna-se manifesta. Similarmente, nada em nossa experiência diária nos dá razão para supor que a mente do homem sensual comum tem como um dos seus componentes algo parecido ou idêntico à Realidade substancial ao mundo multiforme; mas quando a mente é submetida a certos tratamentos drásticos, o elemento divino, do qual, pelo menos em parte, ela é composta, torna-se manifesto, não apenas na própria mente, mas também por seu reflexo no comportamento externo, em outras mentes. Só fazendo experiências físicas é que podemos descobrir a natureza íntima da mente e suas potencialidades. Nas circunstâncias ordinárias da vida comum e sensória, essas potencialidades da mente permanecerão latentes e não-manifestadas. Para podermos realizá-las, temos de preencher determinadas condições e obedecer a certas regras que a experiência mostrou serem empiricamente válidas.

Não existem muitas provas de que os filósofos profissionais e os homens de letras se empenhassem para preencher as condições necessárias ao conhecimento espiritual direto. Quando os poetas ou metafísicos falam a respeito de assuntos da Filosofia Perene, quase sempre o fazem indiretamente. Mas em todas as idades tem havido alguns homens e mulheres que se determinaram a preencher as condições que permitem, como um fato empírico bruto, atingir o conhecimento imediato e direto. E dentre eles somente uns poucos deixaram relatos dessa Realidade que puderam apreender e tentaram comunicar, num sistema compreensível de pensamento, os fatos obtidos dessa experiência, assim como os de outras experiências. A esses expoentes de primeira mão da Filosofia Perene, os que os conheceram deram o nome de “santo” ou “profeta”, “sábio” ou “ser iluminado”. E foram principalmente esses, porque há boa razão para supor que sabem o que estão falando, e não os filósofos profissionais e escritores, que incluí nas minhas seleções. [Huxley]

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