Assim este ser [adâmico] foi denominado Homem (insan) e Representante (khalifah) de Deus. Quanto a sua qualidade de homem, ela designa sua natureza sintética [contendo virtualmente todas as outras naturezas criadas] e sua atitude a abarcar todas as Verdades essenciais. O homem é para Deus (al-haqq) aquilo que a pupila é para o olho [a pupila se chama em árabe “o homem no olho”], a pupila sendo aquilo pelo qual o olhar se efetua; pois por ele [quer dizer pelo Homem Universal] Deus contempla Sua criação e lhe dispensa Sua misericórdia. Tal é o homem ao mesmo tempo efêmero e eterno, ser criado perpétuo e imortal, Verbo discriminante [por seu conhecimento distintivo] e unificante [por sua essência divina] (Nota). Por sua existência, o mundo foi finalizado. Ele é para o mundo aquilo que o engaste é para o anel: o engaste porta o selo que o rei aplica sobre os cofres de seu tesouro; e é por causa disto que o homem [universal] é denominado o representante de Deus, do qual salvaguarda a criação, como salvaguardam-se os tesouros por um selo: enquanto o sinete do rei se encontrar pousado sobre os cofres do tesouro, ninguém ousará abri-los sem sua permissão; assim o homem se vê confiar a salvaguarda divina do mundo, e o mundo não cessará de ser salvaguardado enquanto este Homem Universal (al-insan al-kamil) habitar nele. Não vês portanto que quando ele desaparecer e que for retirado os cofres deste mundo aqui de baixo, nada daquilo que Deus aí conservava não restará, e tudo aquilo que eles continham sairá, cada parte reencontrando sua parte [correspondente]; o todo se transportará no outro mundo, e [o Homem universal] será o selo sobre os cofres do outro mundo perpetuamente.
Ibn Arabi (SP) – Da sabedoria divina no verbo adâmico §3
TERMOS CHAVES: Adão-Eva