IBN ARABI — SABEDORIA DOS PROFETAS
“Ismael foi aceito por seu Senhor” [Alcorão, XIX, 55], porque ele reconheceu o que acabamos de explicar. Da mesma forma, todo ser existente é [em princípio] aprovado por seu Senhor, sem que isso implique necessariamente que cada um seja aprovado pelo Senhor do outro, pois o Senhorio é definido apenas com relação a cada um em particular, [uma vez que é a relação “pessoal” do indivíduo com Deus], de modo que diz respeito a Deus apenas de acordo com um de Seus aspectos, que corresponde à predisposição (isti’dâd) do indivíduo; esse é o “Senhor” desse indivíduo em particular. Nenhum [ser particular] está ligado [como tal] a Deus em virtude de Sua [suprema] Unidade. É por isso que os homens de Deus não podem receber “revelação” (tajalli) na Unidade (al-ahadiyah); pois se você O contemplar por Si mesmo, é Ele quem contempla a Si mesmo; Ele não deixa, portanto, de ser Ele mesmo contemplando a Si mesmo; se você O contemplar por si mesmo, a Unidade deixa de ser Unidade, por sua causa; e se você O contempla por meio Dele e por meio de você, a Unidade também deixa de ser o que é, porque o pronome da segunda pessoa pressupõe que há algo além do contemplado; haverá necessariamente uma relação de algum tipo e, consequentemente, uma dualidade do contemplador e do contemplado, daí a cessação da Unidade, embora haja [em princípio] apenas Ele que se contempla, pois você sabe bem que nem o contemplador nem o contemplado são ‘outros que Ele’.