Ibn Arabi (SP) – Da sabedoria da inspiração divina no verbo de Seth §17

Sempre que um intuitivo contempla uma forma que lhe comunica um novo conhecimento que ele não havia sido capaz de captar antes, essa forma será uma expressão de sua própria essência (ayn) e nada que lhe seja estranho. É da árvore de sua própria alma que ele colhe o fruto de seu cultivo, assim como sua imagem refletida por uma superfície polida não é outra coisa senão ele mesmo, embora o local de reflexão — ou a Presença divina — que lhe dá sua própria forma, cause inversões de acordo com a Verdade essencial inerente a essa Presença (divina)1. Assim, no caso de um espelho concreto, ele pode refletir as coisas de acordo com suas verdadeiras proporções, o grande como grande, o pequeno como pequeno, o alongado como alongado e o móvel como móvel, mas também (de acordo com sua constituição ou perspectiva) pode inverter as proporções; da mesma forma, é possível que um espelho reflita as coisas sem a inversão usual, mostrando o lado direito do observador a partir de seu lado direito, enquanto que, em geral, o lado direito da imagem refletida é oposto ao lado esquerdo do observador; pode, portanto, haver exceções à regra, como no caso em que as proporções são invertidas; e tudo isso também se aplica aos vários modos da Presença (divina) nos quais a revelação (da “forma” essencial do observador) ocorre, e que nós comparamos ao espelho.

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  1. Os estados contemplativos podem ser concebidos como “Presenças” divinas (hadarat) ou como diferentes modalidades da única Presença de Deus. Há um número indefinido de Presenças divinas; entretanto, geralmente distinguimos cinco Presenças fundamentais, de acordo com vários esquemas, os quais mencionaremos a seguir: À “Presença da não-manifestação absoluta” (hadarat al-ghayb al-mutlaq) se opõe — não na Realidade divina, mas de um ponto de vista estritamente humano e provisório — a “Presença da manifestação completa” (hadarat ash-shahadat al-mutlaqah), ou seja, o mundo “objetivo”. Entre essas duas Presenças está a “Presença da não-manifestação relativa” (hadarat al-ghayb al-mudaft), que, por sua vez, é subdividida em duas regiões cósmicas distintas, uma das quais, a da existência supraformal (al-jabarut), está mais próxima da “não-manifestação absoluta”, enquanto a outra, a do mundo das formas sutis (alam al-mithal), está mais próxima da “manifestação completa”. Essas quatro Presenças são todas englobadas por uma quinta, a “Presença total” (al-hadarat al-jam’iyah), que é identificada com o Homem universal (al-insan al-kamil). — Gostaríamos de acrescentar que essa distinção entre as “Presenças” é parte integrante de uma perspectiva que é, de certa forma, “prática”, ou seja, relacionada ao caminho contemplativo e não à pura doutrina metafísica

Rupert Spira, Sabedoria dos Profetas