Tradução
Q. Você diz que não existe uma maneira fenomenal de sair da gaiola do ego, mas podemos chegar ao estado de relaxamento profundo trabalhando primeiro no corpo em vez de esperar por um insight? O que podemos fazer no nível do corpo para nos ajudar a perder a ideia de sermos uma entidade individual?
Jean Klein: O corpo é um objeto de nossa com-ciência; ele é sentido; ele ocorre em nossa com-ciência. O corpo está em nós, mas não estamos no corpo. Se estivéssemos, não poderíamos estar cientes dele.
Vejamos um exemplo. Você sente um frio glacial. Nesse momento, você está identificado com a percepção. Você está perdido na sensação. Muito rapidamente, você pensa ou diz: “Estou com frio”, e a percepção se perde no conceito. Agora você está em defesa e tenta escapar do frio de uma forma ou de outra. Mas no momento em que sente o frio como um objeto separado do “eu”, por exemplo, “Aqui está uma massa de frio”, você não está mais escapando da percepção e a sensação permanece em sua com-ciência. Você sabe que não está com frio, apenas um objeto está com frio, portanto, não há mais o reflexo de se defender “de si mesmo” contra o frio. Quando sua observação está livre de qualquer antecipação, a sensação pode ser sentida, explorada e tratada como um fato.
Da mesma forma, quando fazemos o trabalho corporal, a sensação é sentida e explorada em nossa com-ciência. Há um espaço entre o “eu” e a sensação. Você não está mais preso a ela, o objeto. O objetivo do trabalho corporal é nos tornar cientes desse espaço entre o “eu” e o objeto, um espaço que é habitualmente apertado. Esse espaço entre o objeto e o “eu” ainda está em dualidade, mas chega um momento em que o espaço é sentido como nossa natureza real, nós permanecemos nele, e o objeto, a sensação, aparece nele.
Há um certo número de posturas que são arquétipos. Por arquétipo, quero dizer uma reunião em uma postura de muitas posturas do corpo, uma concentração em uma postura de muitos níveis do corpo. Um desses arquétipos é a postura do morto (savasana). O valor dessa postura é que se pode sentir e articular o corpo inteiro. A massa corporal tem contato com o chão. O que significa “contato” aqui? Geralmente, nosso contato com o solo é passivo. Mas quando percebemos que há um contato e um contra-contato, ou seja, o corpo e o solo estão entrelaçados — o corpo entra no solo e o solo entra no corpo — quando isso acontece, não há mais resistência ou oposição. Então, há uma harmonização da energia. Nosso corpo não é mais sentido como separado da energia global, mas está integrado ao solo vivo e o solo está integrado ao nosso corpo.
Original
Q. You say there is no phenomenal way out of the cage of the ego, but can we come to the deep relaxed state by first working on the body rather than waiting for an insight? What can we do on the body level to help us lose the idea of being an individual entity?
Jean Klein: The body is an object of our awareness; it is sensed; it takes place in our awareness. The body is in us, but we are not in the body. If we were we could not be aware of it.
Let us take an example. You feel icy cold. In this moment you are identified with the perception. You are lost in the sensation. Very quickly you think or say, “I am icy cold,” and the perception is lost in the concept. You are now in defence, and you try to escape the cold in one way or another. But the moment you feel the cold as an object apart from “I,” for example, “Here is a mass of cold,” you are no longer escaping the perception and the sensation lives in your awareness. You know you are not cold, only an object is cold, so there is no longer the reflex to defend “yourself” against the cold. When your observation is free from any anticipation, the sensation can be felt and explored and dealt with as a fact.
Likewise, when we do the bodywork the sensation is felt and explored in our awareness. There is space between “I” and the sensation. You are no longer stuck to it, the object. The goal of the bodywork is to make us aware of this space between the “I” and the object, a space that is habitually cramped. This space between object and “I” is still in duality, but there comes a moment when the space is felt as our real nature, we abide in it, and the object, the sensation, appears in it.
There are a certain number of postures which are archetypes. By archetype I mean a gathering in one pose of many poses of the body, a concentration in one pose of many levels of the body. One of these archetypes is the dead pose (savasana). The value of this pose is that one can feel and articulate the whole body. The body mass has its contact on the ground. What does “contact” mean here? Generally our contact with the ground is passive. But when we see that there is a contact and a counter-contact, that is, body and ground are interwoven—the body goes in the ground and the ground goes in the body—when this happens, there is no longer resistance or opposition. Then there is harmonisation of energy. Our body is no longer felt as separate from global energy, but is integrated in the living ground and the ground is integrated in our body.