Jordi Rosado: Ulisses no divan

destaque

Jung, leitor sobrecarregado, já havia escrito seu ensaio Who is Ulysses [sobre a obra de Joyce] quando James Joyce, que estava escrevendo seu [agora] inatacável romance Finnegans Wake, foi visitá-lo para consultá-lo sobre a saúde mental de Lucia, sua filha, que anos mais tarde, em 1962, morreria psicótica em uma clínica suíça. Mas então Lucia se sentava para trabalhar com o pai e, enquanto Joyce escrevia seu romance, ela estava montando, também por escrito, sua própria versão de Finnegans Wake. Lucia preenchia página após página com episódios de imaginação caótica, onírica, exaltada e transbordante, elementos que ela compartilhava com o Finnegans Wake que seu pai estava escrevendo. Jung leu as páginas que a garota havia escrito, fez um parecer psiquiátrico e escreveu para James a resposta para a pergunta específica que lhe havia sido feita. Joyce lhe disse que sua filha escrevia exatamente como ele; ao que Jung respondeu: “mas onde você nada, ela se afoga”.

Jung tocou com esse ditado o coração da literatura, aquela arte em que um lunático delirante passa, graças à magia da escrita, por um romancista respeitável.

original

[Preámbulo: Ulises en el diván. JORDI ROSADO, 5 de diciembre de 2011]