Theosophia — Louis-Claude de Saint-Martin (1743—1803)
Segundo André Tanner, que organizou uma excelente seleção de textos de Saint-Martin, este “teósofo” é um “homem de desejo”, parafraseando o título de uma de suas mais conhecidas obras. Mas é preciso restituir a esta bela expressão todo seu significado, e sua pureza primeira. O desejo (epithymia;thymos) é próprio do homem, signo de sua miséria e de sua grandeza. O desejo, é o sentimento doloroso daquilo que separa a existência da essência, e a necessidade de as unir. Assim concebido — “vi que nada mais havia de tão comum quanto os desejos (fr. envies), e nada de tão raro quanto o Desejo (fr. désir)”, diria Saint-Martin — o desejo comanda a démarche deste teósofo, e nele se define em relação a lástima de uma perfeição perdida, a humilhação da “Queda”, e a possibilidade de uma “regeneração”, graças àquele que ele se alegra em chamar “o divino Reparador”.
-*O site LE PHILOSOPHE INCONNU oferece o melhor acervo dos originais da obra de Saint-Martin e de sua escola.
René Guénon: MAGIA E MISTICISMO
É necessário dizer que também ocorreu às vezes que outros, depois de terem entrado realmente na via iniciática, e não só nas ilusões da pseudo-iniciação, como aqueles de quem falamos aqui, abandonaram esta via pelo misticismo; os motivos são então, naturalmente, bastante diferentes, e principalmente da ordem sentimental, mas, quaisquer que possam ser, é mister ver sobretudo, em parecidos casos, a consequência de um defeito qualquer sob a relação das qualificações iniciáticas, ao menos no que concerne à aptidão para realizar a iniciação efetiva; um dos exemplos mais típicos que se pode citar neste gênero é o do L. Cl. de Saint-Martin.