VIDE portas solsticiais, simbolismo solsticial, São João
Citando Jérome Carcopino (v. zodíaco pitagórico): “Segundo Proclo, Numênio as teria especializado de forma estrita: pela porta de Câncer, a queda das almas sobre a terra; pela de Capricórnio, a ascensão das almas ao éter. Em Porfírio, ao contrário, é dito apenas que Câncer está ao norte e é favorável à descida, e que Capricórnio, ao sul, é favorável à subida, de modo que ao invés de estarem submetidas de forma estrita ao ‘sentido único’, as almas teriam conservado, tanto para ir, quanto para voltar, uma certa liberdade de circulação”. O final desta citação exprime apenas, para dizer a verdade, uma interpretação cuja responsabilidade deve ser atribuída por inteiro ao sr. Carcopino. Não vemos, de modo algum, em que o que diz Porfírio seria “contrário” ao que diz Proclo; está formulado talvez de um modo um pouco mais vago, mas parece no fundo dizer a mesma coisa. O que é “favorável” à descida ou à subida deve sem dúvida ser entendido como o que a torna possível, pois é pouco provável que Porfírio tenha pretendido deixar subsistir desse modo alguma espécie de indeterminação, o que, sendo incompatível com o caráter rigoroso da ciência tradicional, seria apenas para ele uma prova de ignorância pura e simples desse ponto. Seja como for, é visível que Numênio nada mais fez que repetir, sobre o papel das duas portas, o ensinamento tradicional conhecido. Por outro lado, se ele coloca, como indica Porfírio, Câncer ao norte e Capricórnio ao sul, é porque viu sua posição no céu. É o que, aliás, indica de forma muito clara o fato de, na citação precedente, tratar-se dos “trópicos”, que não podem ter outro significado, e de modo algum referir-se aos “solstícios”, que dizem respeito mais diretamente ao ciclo anual. É por isso que a situação enunciada aqui é a inversa daquela fornecida pelo simbolismo védico, sem que isso no entanto faça qualquer diferença real, pois trata-se de dois pontos de vista igualmente legítimos, e que concordam de modo perfeito entre si, desde que se conheça sua relação. (Guénon)
Ainda que o verão seja de modo geral considerado uma estação alegre e o inverno uma estação triste, e que por isso o primeiro represente de certa maneira o triunfo da luz e o segundo o da obscuridade, os dois solstícios correspondentes têm, na realidade, um caráter exatamente oposto. Pode parecer que existe aí um paradoxo bastante estranho, mas no entanto é bem fácil compreender a razão disso, desde que se tenha algum conhecimento dos dados tradicionais sobre o curso do ciclo anual. De fato, o que atingiu ao seu máximo só pode decrescer, e o que chegou ao seu mínimo só pode inversamente começar a crescer. É por isso que o solstício de verão marca o início da metade descendente do ano, e o solstício de inverno, ao contrário, o começo da metade ascendente. É também o que explica, do ponto de vista de sua significação cósmica, as seguintes palavras de São João Batista, cujo nascimento coincide (no hemisfério norte) com o solstício de verão: “É necessário que ele cresça (Cristo nascido no solstício de inverno) e eu diminua.” (Guénon)