Não deve fazer diferença se descartamos o “eu” ou o “outro”, pois o descarte de um elimina o outro.
O método proposto pelos Mestres é “deixar de pensar”, pois então nem o “eu” nem o “outro” existem mais. A expressão “deixar de pensar” significa deixar de pensar a partir de um “eu”, pois o pensamento puro, o “pensamento absoluto”, o “pensamento direto”, o “pensamento único” (pensamento não dualista), wu nien, é o que o pensamento é quando não há pensador.
Viver totalmente é deixar de viver parcialmente — como fazemos normalmente -, ou seja, não é “viver” mais, mas “viver” menos, pois esses dois advérbios denotam vida volitiva.
Ao deixarmos de viver voluntariamente, necessariamente vivemos totalmente — o que é wu wei.
Ao vivermos totalmente, não pode mais haver conflito entre a natureza que somos e uma “entidade” conceitual, que aparece como um “eu”, e que produz angústia e a sensação de cativeiro.
Viver na totalidade implica que nossa fenomenalidade é integralmente inerente ao noúmeno que, na terminologia budista, representa o samsara e o nirvana indiferenciados.