Werther, Goethe

(Deghaye2000)

Goethe havia sido consagrado poeta pelos sucessos que muito cedo havia conquistado. No entanto, ele acreditou por muito tempo que sua vocação era dupla. Ele se considerava verdadeiramente predestinado às belas-artes. Foi apenas em 1788, na Itália, que sua desilusão foi total.

Certamente, Goethe sentiu, muito antes, uma certa ambiguidade. Werther é testemunha disso. Sua história é essencialmente a de um artista atingido pela esterilidade e que não se reconhece como poeta. Goethe projetou em seu romance os perigos que ele mesmo superou graças à criação literária.

Werther não é poeta de ofício, é o desenho que ele pratica. No entanto, sua arte é um fracasso, e isso é uma componente importante de seu destino trágico.

Na carta de 10 de maio, Werther se sente o maior pintor de todos os tempos. Contudo, ao mesmo tempo, ele se diz incapaz de traçar sequer um único risco. Simultaneamente, Werther se exalta e trai sua própria impotência. O final dessa carta, iniciada com euforia, adquire um tom trágico. Werther se embriaga com a vida universal e sonha projetar na tela todo esse mundo que ele abraça internamente. Mas esse desejo é em vão; ele tem apenas sua paixão.

Werther sabe perfeitamente o que lhe falta: o dom de dar forma ao que sente. A carta de 24 de julho é particularmente reveladora nesse sentido.

Devemos atribuir a Werther apenas um esboço, aquele que o vemos desenhar na carta de 26 de maio e que serve para ilustrar uma estética segundo a qual é a natureza que faz tudo, para a grande surpresa do artista. Mas é a única obra com a qual ele se declara satisfeito. A que mais lhe é querida, o retrato de Lotte, esse projeto no qual ele coloca a essência de suas aspirações, não toma forma. Werther consegue apenas traçar uma silhueta. A obra ideal será apenas uma sombra, o que simboliza sua vocação frustrada.

Werther desenha, mas não possui verdadeiro talento, e, finalmente, é a palavra que substitui o lápis. Essa palavra é prestigiada, mas Werther a toma emprestada de Goethe, pois ele mesmo não se reconhece como poeta. Se o julgarmos pelo que ele se propõe, o balanço é negativo. Do ponto de vista de sua arte, Werther é um personagem que substitui sua falta de gênio por seus desabafos.

Consideramos o interesse de Goethe pelas belas-artes sob dois aspectos. O primeiro é positivo. É ele que leva Goethe a dizer que o desenho auxilia a criação poética, em vez de dificultá-la. Nessa perspectiva, a arte plástica está a serviço da sensibilidade literária. Ela impede o poeta de se perder no subjetivismo de Werther, ao apresentar-lhe um mundo de formas cuja aparência materializa a ideia de lei. Ela educa o olhar, o força a observar as coisas e, assim, dá mais consistência à obra literária. Ela ajuda o autor a se distanciar de si mesmo, mostrando-lhe a beleza do mundo ao redor e sua realidade viva. Fazendo isso, exorciza o demônio interior.

Nessa primeira perspectiva, o envolvimento com as belas-artes exerce sobre o poeta uma influência salutar, até mesmo salvadora. A segunda, por outro lado, é negativa. A poesia está a serviço das belas-artes, mas no caso de Werther, ela não faz florescer o talento artístico. O resultado é uma estética que, do ponto de vista estritamente artístico, pode parecer híbrida: uma teoria literária das belas-artes.


A prática do desenho em Goethe poderia ser comparada a uma abordagem espiritual do mesmo tipo? Voltemos a Werther. Citamos a carta de 10 de maio. Este texto nos traz uma dupla revelação. Por um lado, ele nos mostra a trágica impotência de Werther em transmitir no desenho o que ele sente viver dentro de si. Por outro lado, ele explicita sua intenção.

O que Werther tanto desejaria, mas não consegue realizar, é criar uma obra que fosse o perfeito reflexo de sua alma, exatamente como sua alma é o reflexo de Deus. Reproduzimos fielmente essas palavras e não pensamos que sejam apenas uma metáfora. Elas expressam uma ambição que, de maneira evidente, está fora de proporção com o modesto talento artístico de Werther, mas que, de certa forma, redime seu fracasso, pois se justifica como uma exigência espiritual. Por meio do jogo de analogias que correlacionam Deus com a alma como imagem da Divindade, a alma com o universo que se funde perfeitamente nela através de uma contemplação realizada de olhos fechados, e a pintura realizada na tela da alma com aquela que seria executada pela mão do artista, Werther gostaria de manifestar, em uma obra de arte, a plenitude da vida divina. Em outras palavras, o que ele pede à arte é que ofereça a revelação suprema. Werther não espera mais nada da teologia dogmática nem da filosofia. Em vez disso, ele sonha com uma arte que tornaria evidente o mistério da alma e, de forma correlata, o da Divindade.

A teologia da imagem desempenha um papel essencial na mística cristã e se presta de forma admirável à transposição de categorias religiosas em termos estéticos. Na época em que viveu Goethe, essa transposição era a forma essencial de “secularização” realizada no plano do espírito.

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