Frances Yates — O Iluminismo Rosa-Cruz
Ashmole afirma isso em 27 de junho de 1589 quando, em Bremen, Dee recebeu a visita do “famoso filósofo hermético ou alquímico, Dr. Henricus Khunrath, de Hamburgo” (Ibid.). A influência de Dee é um fato evidente na extraordinária obra de Khunrath “O Anfiteatro da Sabedoria Eterna”, publicada em Hanover, em 16091. “Monas” — o símbolo de Dee, um emblema complexo por ele explicado em seu livro Monas Hieroglyphica (publicado em 1564 com uma dedicatoria ao Imperador Maximiliano II), tão significativo pela sua forma peculiar da filosofia alquímica — pode ser observada numa das ilustrações do “Amphiteatre”, e tanto a Monas de sua autoría, quanto seus Aphorisms estão mencionados no texto de Khunrath2. O “Anfiteatro” forma um elo entre a filosofia influenciada por Dee e a filosofia dos manifestos rosa-cruzes. Na obra de Khunrath deparamo-nos com a fraseologia característica dos manifestos, a ênfase permanente sobre o macrocosmo e o microcosmo, a insistência sobre a Magia, a Cabala e a Alquimia, como que combinando-se para criar uma filosofia religiosa que promete um novo alvorecer para a humanidade.
As gravuras simbólicas no “O Anfiteatro da Sabedoria Eterna” são dignas de um estudo, como uma introdução visual à linguagem figurada e à filosofia que encontraremos nos manifestos rosa-cruzes. Exceto no título, a palavra “Anfiteatro” não aparece nesse trabalho, e podemos apenas supor que Khunrath com esse título deve ter tido em mente algum pensamento de um sistema oculto de memória, através do qual ele estava apresentando suas ideias visualmente. Uma das gravuras mostra uma grande caverna, com inscrições nas paredes, através das quais os adeptos de alguma experiência espiritual estão se dirigindo para uma luz. Isso também pode ter sugerido uma linguagem figurada na Fama rosa-cruciana. E a gravura de um alquimista religioso é sugestiva tanto do ponto de vista de John Dee como dos manifestos rosa-cruzes. À esquerda, um homem numa atitude de profunda adoração está ajoelhado na frente de um altar, no qual constam símbolos cabalísticos e geométricos. A direita, vê-se um grande forno com todo o aparelhamento para o trabalho de um alquimista. No centro, instrumentos musicais estão empilhados sobre uma mesa. E a composição no conjunto está num hall, desenhada com toda a perícia de um perspectivista moderno, demonstrando o conhecimento daquelas artes matemáticas, que se harmonizavam com a arquitetura da Renascença. Essa gravura é uma demonstração visual do tipo de concepções que John Dee sintetizou em sua Monas hieroglyphica, uma combinação de disciplinas cabalística, alquímica e matemática, por meio das quais o adepto acreditava que poderia alcançar um profundo discernimento da natureza e a visão de um mundo divino para além da natureza.
Ela também poderia servir como manifestação visual dos temas principais dos manifestos rosa-cruzes, Magia, Cabala e Alquimia, unidos numa concepção profundamente religiosa, que abrangia um enfoque religioso de todas as ciências dos números.
H. Khunrath, Amphitheatrum Sapientiae Aeternae, Hanover, 1609. Esta não foi a primeira edição. ↩
Amphitheatrum, p. 6. ↩