Os filósofos críticos gregos anteriores a Sócrates, os pensadores pré-socráticos e os sofistas, praticamente destruíram sua tradição mitológica nativa. O novo enfoque que deram à solução dos enigmas do universo, da natureza e do destino do homem, amoldava-se à lógica das incipientes ciências naturais — física e astronomia — e das matemáticas. Sob sua poderosa influência, os antigos símbolos mitológicos degeneraram em elegantes e divertidos temas para romances, tão improfícuos quanto as tagarelices sobre os intrincados casos de amor e desavenças da hierarquia celestial. Na Índia, pelo contrário, a mitologia nunca deixou de apoiar e facilitar a expressão do pensamento filosófico. A rica pictografia da tradição épica, as características das divindades cujas encarnações e proezas constituem o mito, e ainda os símbolos religiosos, populares e esotéricos, serviram reiteradamente aos fins de ensino didático, convertendo-se em receptáculos com os quais os mestres comunicavam suas renovadoras experiências da verdade. Efetuou-se, assim, uma cooperação do mais recente com o mais antigo, do mais baixo com o mais elevado, uma maravilhosa amizade entre a mitologia e a filosofia; e isto formou um tal alicerce que toda estrutura da civilização indiana tornou-se plena de significação espiritual. A estreita interdependência e a perfeita harmonização de ambas servem para refrear a natural tendência da filosofia indiana para o esotérico e recôndito, apartada da vida e da tarefa de educar a sociedade. No universo hindu, o folclore e a mitologia levam às massas as verdades e os ensinamentos filosóficos. Nesta forma simbólica, as ideias não têm que ser rebaixadas para tornarem-se populares. A vívida e adequada pictografia conserva as doutrinas sem alterar seu sentido. [Zimmer]
mitologia hindu
TERMOS CHAVES: mito