Arthur Versluis — A FILOSOFIA DA MAGIA (AVPM)
A intoxicação com as estrelas sempre foi uma marca daqueles profundamente imersos na jornada espiritual. O mestre sufi Xeique Al’Alawi (vide Martin Lings) começou, em seguida a sua iniciação por seu Mestre, uma série de escritos sobre as estrelas e planetas, e seus discípulos relatam que ele frequentemente passava a noite em êxtase, admirando as estrelas. É significante que sua primeira obra foi escrita sobre as estrelas — escrita, segundo ele, porque ele mal podia conter seu arrebatamento, e a escrita deu asas a isto — porque sublinha a conexão íntima entre a jornada espiritual e as estrelas, uma conexão que é reiterada em cada livro teosófico que se encontra (vide Theosophia).
Jacob Boehme, em seus Seis Pontos Teosóficos, escreve que «os elementos nada são mas uma imagem ou uma similitude, uma existência em movimento do que é invisível e imóvel». Em adição, «as estrelas como tal são um efluxo das qualidades do mundo espiritual, de acordo com a separação do separador, cujo fundamento é o Verbo, ou a inseparável Vontade de Deus». Embora alguns escritores modernos tentaram pôr Boehme e outros místicos ocidentais separados de Platão e o Neoplatonismo, eles de fato são indivisíveis, na medida que ambos ecoam as mesmas verdades universais. Que assim é se torna evidente da passagem citada, pois nela Boehme repete, quase literalmente, uma passagem do Timeu na qual Platão define a temporalidade e os elementos como «uma similitude móvel da Eternidade».
E é aqui que o mysterium magnum das estrelas como a se revelar ele mesmo: pois os poder irresistível das estrelas jaz, para começar, no fato que enquanto aparentemente móvel, elas são eternas; mudando, elas são imutáveis. Elas são, como Boehme disse, o efluxo do mundo espiritual. Como as estrelas são invisíveis para o dia e no entanto são sua abstrata imagem Ideal, contendo suas Formas nas constelações, assim é o mundo espiritual para o mundo físico, na medida que também é invisível ao olho para o dia, e no entanto contém suas Formas eternas e suas Origens celestiais.
Esta polaridade recíproca entre o estelar e o terrestre, e entre o espiritual e o físico é o relacionamento mais profundo que pode ser elucidado somente por experiência direta disto, mas sua última resolução pode ser vislumbrada no tema central desta obra: que tudo é Mente e o mundo físico é meramente um reflexo. Como Boehme disse:
toda vida é um claro brilho e espelho e aparece como o fulgor de um aspecto terrível. Mas se este fulgor apreende a luz, é transformado em gentileza e deixa o terror, pois então o terror se une à luz. E assim a luz brilha do terrível fulgor; pois o fulgor é a essência da luz; é seu fogo.
Assim como o mundo estelar é para o terrestre, assim também o reino espiritual é para o físico: toda a vida nasceu na terra, e temeu o celestial, pois o celestial aparece à ela como Vazio, como Nada. Mas a vida começa a apreender a luz, começa a realizar que a luz nada mais é que sua própria natureza essencial, perde seu terror dos reinos celestiais Infinitos e se dá conta de sua própria divindade. Começa a abarcar o mundo celestial do qual este mundo é somente uma figura móvel.
No entanto o relacionamento entre o reino estelar e o reino espiritual das essências é um mistério muito mais profundo do que uma questão de simples analogia. Pois os reinos estelar e planetário nunca podem ser vistos meramente como símbolos, mas ao invés devem ser vistos como signos da Pérola inerradicável que está tanto dentro quanto fora. As estrelas não são simplesmente um símbolo do que está dentro: elas estão dentro. Elas estão dentro da Mente e são a manifestação do ser Eterno que é a alma. As estrelas são para o cosmo perecível e para a terra o que a alma é, como reino espiritual imperecível é para o corpo. E porque os dois — espiritual e físico — não são divisíveis, isto não é somente analogicamente verdadeiro, mas também, em um sentido, descrição «empírica». As estrelas, então, são a manifestação perecível da alma imortal e assim são, enquanto finalmente dissolvidas, ainda imortal em comparação com a terra transiente, assim como a alma — embora dissolvível em espírito e então Mente — ainda é imortal em comparação com a morada efêmera que é o corpo.