VIDE: SABEDORIA DOS PROFETAS
A SABEDORIA DA COMPAIXÃO NO VERBO DE SALOMÃO [AustinFusus]
- Misericórdia divina
- Maestria ou domínio
- Conceito de criação a cada instante
Mais uma vez Ibn Arabi retorna a um de seus temas favoritos: a divina Misericórdia. Geralmente quando fala da divina Misericórdia, refere-se a Misericórdia criativa que generosamente e infinitamente concede existência às essências latentes em resposta ao desejo ao desejo por autoconsciência divina. Aqui, entretanto, ele indica que a Misericórdia está implícita não somente no ato da criação cósmica mas também na reversão aniquiladora deste ato, que restaurará todos os seres a Deus tão somente. A primeira Misericórdia dirige a atenção de Deus (himmah) à criação e manutenção de Sua imagem cósmica, enquanto a segunda Misericórdia refoca toda esta atenção sobre Ele Mesmo, somente, em Sua perfeita unicidade e Autossuficiência. Pela primeira Ele dá livremente Seu poder e consciência em resposta ao afã das essências latentes a realizar em existência o que estão eternamente predispostas a se tornar. Pela segunda Ele rigorosamente obriga o Cosmo a reconhecer isso, em si mesmo, não é nada outro senão Ele e conduzir seu ser de volta a sua fonte nEle. Assim, a segunda espécie de Misericórdia é essencialmente sinônima da divina Ira, enquanto a primeira é essencialmente o mesmo que o divino Bom Prazer. É irado no sentido que busca aniquilar a existência das criaturas e infligir nelas a dor de ser, finalmente, «nada que valha mencionar». De outro ponto de vista, a primeira Misericórdia está relacionada ao conceito de Vontade divina, enquanto a segunda está relacionada ao Desejo divino, a primeira concernindo puramente a devir existencial, enquanto a segunda busca encorajar o despertar do sonho da existência cósmica para uma consciência mais clara de Seu único direito de ser. Entretanto, seguindo o Corão VII:156 e a Tradição, Ibn Arabi aponta que a segunda Misericórdia está contida dentro da e subordinada à primeira, assim confirmando a continuidade da polaridade Deus–Cosmos, mas só dentro do contento da Unicidade da Realidade, posto que o Cosmo é apenas Sua forma.
O outro tema maior discutido aqui é aquele do domínio ou maestria. Vimos que cada profeta é visto como um canal particular para a transmissão do Espírito divino, que inicia, vivifica e determina. Assim como jesus foi favorecido com o poder espiritual de reviver, assim também Salomão foi favorecido com o poder espiritual de efetuar mudanças na maneira que coisas físicas e elementares se comportam, em adição à revelação verbal usual. Muitos dos profetas, portanto, transmitem não somente a Palavra de Deus como usualmente entendida mas também algum outro aspecto ou modo do poder criativo e determinante do Espírito. No caso de Salomão, Ibn Arabi está dizendo que a ele foi concedido, sem a necessidade de disciplinas especiais, e particularmente para ele mesmo, o poder de dominar e dirigir formas físicas e elementares.
Outro tema importante aqui é o conceito de criação contínua.