Brown (BLPS) – Criação

Tanto para Boehme quanto para Schelling, Deus em seu próprio ser é paralelo à estrutura ontológica do mundo. A criação é uma emanação ou imagem corpórea do próprio ser de Deus, formada quando Deus projeta semelhanças de seus próprios componentes estruturais nas limitações finitas do espaço e do tempo. A coincidência de oposições em Deus se espelha em um conflito real de opostos na criação. Sua concepção da relação Deus-mundo torna difícil afirmar simplesmente a maneira como Deus transcende o mundo. Por um lado, a transcendência de Deus é extrema, porque Deus não é, em nenhum sentido, um membro de uma hierarquia proporcional de seres; em vez disso, está totalmente fora da série e é sua fonte. Por outro lado, é fácil perder de vista a transcendência de Deus, devido à semelhança estrutural imediata do mundo com o próprio ser de Deus e à dependência dele. Essa concepção da relação Deus-mundo também significa que, por causa do paralelismo estrutural, a natureza de Deus pode ser conhecida por meio da percepção da verdadeira natureza do mundo. A percepção da natureza das criaturas, e especialmente do eu humano, produz o conhecimento da natureza divina. Schelling complica o quadro ao tentar declarar em termos filosóficos a afirmação religiosa de que o mundo é criado por um ato livre da vontade divina. O resultado é que Schelling deve dizer que o mundo é contingente no que diz respeito à sua existência (pois Deus o deseja livremente); mas, se ele existe, então também é necessário no que diz respeito à sua estrutura ontológica (pois pode consistir apenas nos mesmos componentes encontrados no próprio Deus).

Friedrich Schelling, Jacob Boehme