1. A essência, os atributos e os atos
Na teologia e metafísica islâmicas, é feita uma distinção entre Deus em Si mesmo, ou a Essência divina (dhat), e Deus como Ele se descreve na revelação. Assim, no Alcorão, Deus se chama por muitos nomes, como “Misericordioso”, “Onisciente”, “Vivo” e “Todo-Poderoso”. A partir desses Nomes (asma’), entendemos que Ele possui os Atributos (sifat) de Misericórdia, Conhecimento, Vida e Poder. Mas o que é Deus em si mesmo, em Sua própria essência? Isso está além de nossa compreensão. Por isso, os muçulmanos fazem distinção entre a Essência de Deus, por um lado, e Seus Nomes e Atributos, por outro.
2. Gentileza e severidade
Os Nomes e Atributos podem ser divididos em duas categorias, conhecidas como “Atributos da Essência” e “Atributos dos Atos”. A primeira categoria inclui todos os Nomes cujos opostos não podem ser aplicados adequadamente a Deus. Assim, Deus é o Vivo, o Poderoso, o Que Vê, etc., mas Ele não é seus opostos. A segunda categoria inclui os Nomes cujos opostos também são Nomes de Deus, como o “Exaltador” e o “Aviltador”, o “Doador de Vida” e o “Matador”. Muitos dos Nomes dos Atos, por sua vez, podem ser divididos em duas outras categorias, que são conhecidas como Atributos de Gentileza (lutf) e Atributos de Severidade (qahr). A tabela a seguir lista alguns dos Nomes divinos de acordo com esse esquema.
3. A razão da criação
A criação — ou o universo e as infinitas formas que o preenchem — é outro nome para os Atos de Deus, e Seus Atos são a manifestação de Seus Atributos. Tendo entendido isso, se nos perguntarem: “Por que Deus criou o mundo?”, a resposta é clara: para manifestar Seus próprios Nomes e Atributos. A própria natureza da Divindade exige algum tipo de atividade. Pois se dissermos que Deus é o “Criador”, que significado esse termo pode ter se não houver criação? Deus criou o mundo para exibir Seus Atributos. Por isso, o Profeta relatou que Deus disse: “Eu era um Tesouro Escondido, todavia, queria ser conhecido. Portanto, criei o mundo para que eu pudesse ser conhecido”. O objetivo da criação é “tornar manifesto” (izhar).
4. Opostos
Rumi frequentemente se refere ou cita a expressão proverbial: “As coisas se tornam claras por meio de seus opostos”. A experiência cotidiana confirma essa verdade, pois a existência da miríade de coisas do mundo só se torna possível por meio da diferenciação e da oposição. Se duas coisas não fossem diferentes e, portanto, “opostas” em algum aspecto, elas seriam uma e a mesma coisa. Cada indivíduo de um par de opostos torna possível a existência do outro indivíduo; dia e noite, perfeição e imperfeição, integridade e fragilidade, felicidade e tristeza, novidade e velhice, espírito e corpo. Cada um desses termos correlativos só pode existir e ser conhecido por causa de seu oposto. E assim é com todas as coisas, exceto Deus. Somente Ele não tem oposto, mas transcende toda oposição. Somente Ele é a verdadeira “coincidência de opostos” (jam`-i addad), onde toda oposição é apagada no Oceano da Unidade. Pela mesma razão, não podemos conhecê-Lo, pois Ele não tem oposto para “torná-Lo claro”.
5. O bem e o mal
A oposição dentro da criação é sempre relativa, no sentido de que não pode haver distinções absolutas. Conhecimento absoluto, vida absoluta, poder absoluto, todos esses são atributos de Deus. Mas quando eles se manifestam no mundo, são enfraquecidos e maculados pela distância de sua Fonte. Por isso, o “conhecimento” e o “poder” encontrados neste mundo são apenas um reflexo tênue dos Atributos puros e transcendentes do próprio Deus.
6. A negligência e a existência do mundo
Deus criou o universo para manifestar o Tesouro Oculto. Portanto, Ele quer que o mundo exista para que possa exibir as potencialidades criativas ilimitadas de Seus Atributos. Mas para que o mundo continue existindo, o verdadeiro conhecimento das coisas como elas são deve ser mantido longe da maioria de seus habitantes. Caso contrário, eles deixariam de se ocupar com as atividades necessárias para a exibição de toda a gama de Seus Atributos. Portanto, Deus deseja a existência de certas coisas que não se poderia esperar; mas, é claro, não em si mesmas, e sim como concomitantes de Seu objetivo final ao criar o mundo. Por exemplo, Deus deseja que a negligência e o esquecimento dEle existam no mundo.