Na teologia e metafísica islâmicas, é feita uma distinção entre Deus em Si mesmo, ou a Essência divina (dhat), e Deus como Ele se descreve na revelação. Assim, no Alcorão, Deus se chama por muitos nomes, como “Misericordioso”, “Onisciente”, “Vivo” e “Todo-Poderoso”. A partir desses Nomes (asma’), entendemos que Ele possui os Atributos (sifat) de Misericórdia, Conhecimento, Vida e Poder. Mas o que é Deus em si mesmo, em Sua própria essência? Isso está além de nossa compreensão. Por isso, os muçulmanos fazem distinção entre a Essência de Deus, por um lado, e Seus Nomes e Atributos, por outro.
A distinção entre a Essência e os Atributos é puramente conceitual, no sentido de que não há diferença ontológica entre os dois lados. Os Nomes e Atributos não são diferentes da Essência em sua existência. A Essência é Una, e cada Nome e Atributo é idêntico à Essência. No entanto, obviamente deve haver alguma diferença entre o Perdão de Deus e Sua Vingança, ou entre Sua Visão e Sua Audição. Essa diferença, entretanto, não se manifesta na Essência, que é Una em todos os aspectos; ela só se torna aparente em Seus “Atos” (afâl) ou “Efeitos” (athar), que também são chamados de “criaturas” (khalq, makhluqat). Na Essência de Deus, a Vingança e a Misericórdia são idênticas, pois nesse nível não pode haver dualidade de nenhum tipo. Porém, na criação, esses dois atributos podem se manifestar por meio de uma variedade infinita de formas, sendo que duas das mais importantes são o céu e o inferno.
Os Atos de Deus são divididos em dois tipos fundamentais: os espirituais e os materiais. Portanto, há três níveis básicos de existência: Deus, o mundo espiritual e o mundo material. O Alcorão se refere a todos os três no versículo: “Em verdade, são Seus a criação e o comando” (VII 54). Aqui, “criação” se refere à criação física, enquanto “comando” denota o mundo espiritual, que, como foi apontado acima, é “do comando do meu Senhor”.