A doutrina tradicional das “duas mentes” ou dois aspectos da mente trata do que existe no ato e o que existe na ação. Combinando a Metafísica de Aristóteles (XII. 7.8, 1072b, 20s. e XII. 9.5, 1074a, 34s) com De anima III.5, 430a vemos que destas duas a primeira ou Mente “em ação” (energeia) propriamente dita (kath adten), no seu próprio ato de existir, significa “separado” (christos) dos que têm sensibilidade (ton aistheton), dos contemplativos (theoretikos), impassíveis (apathes), sem nenhuma recordação, e não misturados com nada; ela não pensa, ou antes, “o « Pensamento » dela é o « Pensamento do pensamento »” (noeseos noesis), isto é, o princípio e o sine qua non do pensamento, e não a atividade de pensar. Em outras palavras, “ela pensa apenas por si mesma” (auton ara noei) “por toda a eternidade” (ton apanta aiona), sem distinção entre sujeito e objeto, pois onde ambos são imateriais “a tese é tanto a operação como o pensamento” (o logos to pragma ki he noesis), “pensamento e o que é pensado são uma e uma só coisa” (he noesis to noomeno mia); a mente, “transformando-se em tudo” (panta ginesthai), é o que ela própria sabe. Além do mais, é a Vida eterna e beatífica (hedistos), a Vida (zoe) do próprio Deus. A segunda mente é criativa (poietikos), e é uma “causa eficiente (to aition kai poietikon) no sentido de fazer tudo” e (to panta noein); é passiva (pathetikos) e mortal e pensa em coisas contingentes, nem sempre pensando em si mesma. A mente é sensível num plano ainda mais baixo que o da sua atividade criadora (aisthetikos = pathetikos).
Estas duas (ou três) mentes são as mesmas duas (ou três) partes da alma mencionadas por Platão: uma imortal e a outra mortal, esta na sua melhor parte ativa e corajosa e na pior parte passivamente afetada e subjugada pelas reações e emoções provocadas pelos sentidos (aisthesis). Na doutrina universal de “uma essência e duas naturezas”, as duas mentes são as “naturezas”. Como três, correspondem à vida contemplativa, à ativa e à vida de prazer.