Assim, disposto pela Panrealidade a ser sua consciência no jogo duplo de um anúncio tácito, o ser humano, longe de ser aniquilado no impasse obsessivo de um Inevitável, redescobre a Força pura e gentil que o chama a ser, a produzir, a irromper, a abundar. O índice do Ser, que o poder oculto tem à sua disposição, predispõe o ser humano a ver o “possível” na opacidade da realidade. E Heidegger, em “Ser e Tempo”, tem esta frase surpreendente:
— “Acima da realidade permanece a possibilidade”. (Sein und Zeit, 38)
O Princípio não é a extinção dos fogos do Ser. É o holofote que deseja, ilumina e revigora toda encenação, toda atuação. O Princípio da Panrealidade, que chega à autoconsciência em nós por meio da pura produção da Ideia do Mundo, é o que o Professor Birault chamou de “Possibilidade Possibilizadora”, a condição de possibilidade que subordina a Fatalidade à Liberdade.
Essa disposição, pela qual queríamos traduzir a “Befindlichkeit” de Heidegger, nos permitiu significar a experiência do Defeito de Manifestação no poder da própria manifestação. Tal disposição nos permitiu esclarecer a lacuna para a qual a Ideia do Mundo havia nos levado anteriormente. Chegou a hora de perceber que essa experiência crucial do surgimento da autoconsciência do Ser na realidade humana ocorre de fato na linguagem com a qual tentamos, como Heidegger, como os Mestres Zen, como os Mandantes e como os japoneses da “Entrevista da Palavra” (Heidegger, GA12), explicitar esse puro advento da autoconsciência que a Panrealidade toma de si mesma por meio de nós.
Uma nova espiral é necessária nessa meditação em espiral da mente sobre si mesma, contornando Aquilo que a produz, a assombra e a quer como autoconsciência. A meditação da Linguagem na qual esse turbilhão ocorre será o elemento dessa nova bobina.