Evola Gênese Condicionada

JULIUS EVOLA — A DOUTRINA DO DESPERTAR

A GÊNESE CONDICIONADA

O problema das «origens», correspondendo à segunda verdade dos árias, foi posteriormente aprofundado pela doutrina dita «da gênese condicionada» — paticcasamuppada — que considera particularmente os graus e os estados através dos quais chega-se até uma existência condicionada. «Profunda, difícil de perceber, difícil de entender, geradora de calma, elevada, irredutível ao pensamento discursivo, sutil, acessível somente aos sábios»: assim é apresentada esta doutrina. Considerando propriamente a dificuldade que experimenta o homem comum a entendê-la, parece que o príncipe Siddharta tinha, a princípio, visualizado a determinação de não divulgá-la: «Doutrina que remonta a corrente, que é interior e profunda, ela se oculta àqueles que estão sujeitos à concupiscência, envelopados em uma espessa treva». É o que deveriam ter presente ao espírito todos aqueles que, a este respeito, desejassem avançar «um pouco contra toda interpretação profunda e metafísica». Ora é um fato, ao contrário, que se trata dos resultados de uma enquete transcendental, obtidos — segundo a tradição — ao longo de estados especiais de consciência, correspondendo às três vigílias noturnas, durante a mesma ação espiritual que conduziu o príncipe Siddharta à iluminação, à bodhi. Eis porque deve avançar igualmente a objeção, segundo a qual este discurso sobre os estados transcendentais, apesar do ostracismo declarado para com toda especulação, se baseia em simples hipóteses filosóficas. O budismo entra em uma civilização, na qual, em princípio, era reconhecida a possibilidade de um olhar, «com o qual se vê, não somente este mundo, mas também o mundo do além», e logo apreender, em condições determinadas, seja os estados que precedem a aparição do homem em uma existência corporal, seja aqueles que intervêm, quando esta forma de manifestação se esgota. Os horizontes de nossos contemporâneos são naturalmente diversos, razão pela qual a impressão que se trata simplesmente de teoria e de especulações não pode ser totalmente eliminada.

Todavia, de uma maneira ou de outra, importa no entanto penetrar este conhecimento, posto que se trata de um ponto capital, tanto da parte doutrinal quanto da parte prática do ensinamento budista. «Quem vê a origem a partir de causas» — é dito com efeito — «eis a verdade, e quem vê a verdade, vê a origem desde as causas». E ainda: «De todas as coisas que procedem de causas, o Realizado explicou as causas e, da mesma forma, também a destruição. Tal é a doutrina do grande asceta. Ela serve, além do mais, de base imediata à ação prática e ela é «geradora de calma» (o estado oposto a dukkha), porque tal é sem sentido: «Se isso é, isto decorre; com a origem disso, tem origem isto; se isso não é, isto não decorre; com o fim disso, acaba isto». Conhecendo isso, pela via do qual se chegou ao estado da existência sansarica, isto, igualmente, vem a ser conhecido: isto, cuja rejeição faz que por sua vez, é rejeitado o estado da existência samsarica. Eis porque a doutrina do paticca samuppada constitui a premissa das duas outras verdade dos árias — da terceira relativa a norodha, quer dizer à possibilidade de destruição do estado definido por dukkha, e da quarta, relativa a magga, quer dizer aos métodos a seguir para efetuar uma tal destruição.

O paticca samuppada — que significa literalmente: «gênese» ou «formação condicionada» — tem em consideração uma série de doze estados ou elementos condicionantes. O termo empregado é nidana, que quer dizer «condição», e não hetu, que significa «causa» — logo trata-se de uma condicionalidade, e não de uma causalidade propriamente dita, de sorte que poderia ser retomada a imagem de uma substância que passa transformativamente por diversos estados, em cada um dos quais está contida a potencialidade de dar lugar, em circunstâncias apropriadas, a outra, ou ainda, se é neutralizada, de impedir o desenvolvimento da outra. Mas sobre qual plano se desenvolve esta série?

A este respeito, as opiniões dos comentadores orientais e mais ainda, naturalmente, aquelas dos orientalistas europeus, foram frequentemente discordantes. Mas isto depende do fato de não se aperceber que a série é suscetível a duas interpretações diversas, as quais não se excluem, nem não se contradizem, posto que elas se referem a dois planos distintos. Segundo a primeira interpretação — seguida unilateralmente por aquele que se põe em defesa contra a «metafísica» — toda a série se desenrolaria sobre o plano da existência samsarica e serviria a precisar o processo que se desenrola no tempo — por assim dizer: horizontalmente — segundo o qual uma existência particular finita é determinada por outras existências precedentes, e por sua vez, determina uma ulterior, a ponto de ser simultaneamente efeito a um certo respeito, e causa, a um certo outro. Todavia uma interpretação mais profunda é igualmente possível.

A série inteira pode ser concebida em termos transcendentais, e não somente temporais, segundo um desdobramento, não sobre a horizontal, mas essencialmente sobre a vertical, partindo de estados pré-individuais e pré-natais, até chegar ao plano da existência samsarica, sobre o qual se desenvolve, por sua vez, a série «horizontal», considerada pela primeira interpretação. Posto que os nidanas eles mesmos, nos textos, são visivelmente considerados, seja segundo o primeiro e seja o de acordo com o segundo ponto de vista, por esta razão veio se criar uma situação favorável a confusões e a interpretações divergentes, cada vez que não se reportou a princípios gerais de ordem doutrinal.

Logo temos, aqui, essencialmente a considerar o paticca samuppada segundo o sentido de uma série transcendental, vertical e descendente, a qual, se não acaba por se gravar no tempo, não é, todavia, ela mesma temporal.
IGNORÂNCIA
-SANKHARAS
CONSCIÊNCIA DISTINTIVA
-NOME-FORMA
-MENTAL
-CONTATO
-SEDE
-UPADANA
EXISTÊNCIA
-NASCIMENTO
-VELHICE MORTE
-MARA



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